domingo, 8 de março de 2009

...mais macho que muito homem

*Enquanto a "Bambas da Alegria" desfila na avenida do samba em Uruguaiana, cantando a história do time que é a paixão de QUASE metade do RS (sim...porque mais da metade torce proutro time!) vim fazer uma postagem de justiça.


Aliás, duas justiças... em primeiro lugar, justiça pela reflexão e pelos cumprimentos pelo 8 de março: Dia Internacional das Mulheres. Segunda justiça seja feita: reproduzo aqui um texto que tem corrido a internet como sendo de autoria da Rita Lee (até o pessoal da CMI caiu nessa, em 2004). Na verdade o texto abaixo é de Heloneida Studart, nascida no ceará em 1932, faleceu em 2007 no Rio de janeiro (leia biografia aqui). No RJ foi deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores e em 2001 escreveu o seguinte texto, que até hoje circula como sendo da Rita Lee (talvez uma confusão pela citação ao final):

"Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinha da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de não ser mais virgem e os dois irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi à janela, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como nem com quem.

Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal de sua casa, para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou "vestígios himenais dilacerados" e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor para "se esquecer do mundo". Esqueceu, morrendo tuberculosa.

Estes episódios marcaram para sempre a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres. Antes, para mutilar, amordaçar, silenciar. Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos.

Todos vimos, na televisão, modelos torturados por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram os seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais. Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem a moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens.

E, com isso, Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres - as baixinhas, as gordas, as de óculos - um sentimento de perda de auto-estima.

Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças. Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa científica, na política, no jornalismo. E no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.

Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque elas são desarmadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem o poder fálico, tão bem representado por pistolas, revólveres, punhais.

Ninguém diz, de uma mulher, que ela é espada. Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade.

As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto.

Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos.

É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes porque carregam lata d'água e trouxa de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram crianças. Ao seu dorso que engrossou, porque ela carrega o país nas costas. São mulheres que imporão um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e corações.

Viva Rita Lee que canta:
"nem toda feiticeira é corcunda,
nem toda brasileira é bunda
e meu peito não é de silicone
...sou mais macho que muito homem"

Heloneida Studart

*Uma saudação aos homens e mulheres que lutam pelo fim da violência e da desigualdade de gênero!

Um abraço especial às mulheres mais importantes da minha vida:

Um comentário:

Anônimo disse...

Ta lindo teu blog, parabéns. Andrea