quinta-feira, 5 de março de 2009

sobre vídeos, filmes e sacanagens...

A charge acima é do Kayser. Veja muitas outras clicando aqui .

Mas não quero falar de filmes de sacanagem, nem das sacanagens da Yeda e sua tucanalha.

Quero indicar dois vídeos que podem nos ajudar a desvelar a perversa sociedade de consumo em que estamos submersos (quer dizer; no fundo são filme de uma baita sacanagem também!!!!)

O primeiro deles já faz parte da lista "Vai lá e vê" aqui no lado das postagens deste blog. É o "História das Coisas" (Story of Stuffs , de Annie Leonard).

Saiba tudo sobre a iniciativa, a produção, os conceitos abordados e assista na íntegra indo até o sítio da versão brasileira (quer ver? clica aqui!)

"História das Coisas é um documentário de 20 minutos, direto, passo a passo, baseado nos subterrâneos de nossos padrões de consumo. História das Coisas revela as conexões entre diversos problemas ambientais e sociais, e é um alerta pela urgência em criarmos um mundo mais sustentável e justo. História das Coisas nos ensina muita coisa, nos faz rir, e pode mudar para sempre a forma como vemos os produtos que consumimos em nossas vidas." - descreve o site.

O vídeo é deliciosamente claro, apesar de veloz e cheio de informações. A narradora nos conduz pelo ciclo de produção, consumo e descarte de materiais, desvelando a tragédia ambiental e social que o sistema "escolhido" pela humanidade provocou/provoca.

A figura da "seta dourada do consumo" como a mola propulsora e mantenedora de quase todo esse sistema nos obriga a repensar muito de nossos hábitos de consumo e ver como nossas singularidades/individualidades podem contribuir num processo amplo de mudanças.

Sempre pensei que as iniciativas individuais eram impotentes frente ao monstro do capitalismo e da sociedade de consumo; achava limitadas as iniciativas de boicote a algum produto, ou de redução de resíduos ou coleta seletiva tomadas individualmente (e o vídeo reforça que são mesmo ineficazes enquanto não se olhar para o problema todo e se desconstruir o ciclo atual).
Mas começo a perceber que a mudança nas posturas e nos padrões de consumo de inívíduos e famílias pode ser um passo importante na mudança de padrões maiores de produçaõ e distribuição de bens na sociedade. Enfim, todo ganho de consciência individual pode se somar a uma construção de consciência coletiva-comunitária que venha a romper com elos dessa estrutura viciada e condenada à auto-destruição agonizante e lenta (ou nem tão lenta).

E sobre essa questão do consumo individual, pesa muito a força assombrosa da publicidade. A criadora de necessidades e artificialismo que mantém o consumo sempre alto, em níveis insustentáveis de degradação do planeta e de acumulação econômico-financeira de poucos conglomerados em cada segmento. E também gera níveis detristeza e frustração nunca vistos na história da humanidade

Sobre isso indico o vídeo "Criança, a alma do negócio", produzido por Maria Farinha Produções, com Direção de Estela Renner e Produção Executiva de Marcos Nisti, divulgado no sítio do Instituto Alana (vale a pena conhecer!).

O filme, de quase 50 minutos, conta com a contribuições de especialistas nas áreas de educação, psicologia, antropologia, sociologia, direito e psicopedagogia. Mostra como o discuros da publicidade tem "atacado" nossas crianças, transformando-as da condição de sujeitos em desenvolvimento para objeto do ato de consumo.

Não por acaso, a grande maioria d apublicidade nas TV's comerciais do Brasil se dirige às crianças, mesmo quando vende produtos para adultos. Um dado citado no filme afirma que 80%das compras são definidas ou influenciadas pelas crianças.

A equação é: tornar a criança um adulto precoce = ter umconsumidor mais cedo
Com depoimentos e relatos de mães e crianças, o vídeo mostra o quadro desolador da nossa infância, diminuída do seu tempo de brincar, lançada para a "adultização" precoce. "

O vídeo também discorre sobre a frustração gerada pelo consumo, estimulado pelas propagandas de forma indistinta em todas as classes sociais, que de forma cruel alarga o abismo da desigualdade social e transforma o ato de comprar/consumir no passaporte para a própria existência.

Quem mata pelo tênis importado não está descalço
O alarmante enunciado da violência urbana crescente, muitas vezes esconde a crueldade e a irracionalidade a que estamos sendo levados. Para explicar isso o vídeo aborda aspectos éticos, discursivos, legais e sociais do consumo e da publicidade.

ASSISTAM CLICANDO AQUI . Peço que, mesmo que demore um pouco para carregar o vídeo no computador, não deixem de assistir. Entender os meandros disso tudo pode nos ajudar a ser pais melhores, professores melhores, pessoas melhores e , até, consumidores melhores...
UM BREVE EPÍLOGO: Ao assistir o "Criança..." aqui em casa a primeira reação foi a indignação (mais organizada depois do filme) de perguntar "Mas então, porque não se limita ou se controla a publicidade que atinge nossas crianças??"
Lembro de moviemntos por uma mídia ética e sei que sempre sofrem ataques dos "lobistas" doconsumo. Dizem que é uma forma de censura, que é um cerceamento de liberdade e blá..blá..$$$..blá...
Só que esses arautos da liberdade não estão nem aí para a educação da nossa sociedade e sobre essa questão do controle do "nível" da publicidade, bem como do que é veiculado de maneira geral, reproduzo a fala do Promotor de Justiça do Consumidor de SP, João Lopes Guimarães :
"Falta uma consciência da sociedade e dos formadores de opinião. E por outro
lado, há uma resistência dos setores econômicos que se sentem atingidos por alguma
forma de regulação (...) O discurso da publicidade é um discurso comercial, ele
não pode gozar da mesma proteção que o discurso político, religioso ou
científico".
Vamos pensar...