sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nas vésperas do feriadão...

Aqui, na terra do sol fronteiriço, o calor é africano, o frio siberiano...poucos meios-termos - pelo menos no clima. Não sei se quando o sol passa pro lado de lá do Rio Uruguai continua escaldante, pelo menos aqui pelo paralelo 30 deve ser...

Pelos idos de quase novembro, o feriado prolongado vem bem a calhar. Tempo com a família, com alguma leitura, com algum sono atrasado, com algo gelado na goela, uma caminhada após o anoitecer..e logo, logo volta a semana cheia de afazeres e relógios carrascos nos perseguindo.

É a vida correndo sabe-se lá para onde!Pensando na vida, nas antecésperas do Dia dos Finados
Agora, aqui, ouvindo VooDoo Glow Skulls, no álbum "Baile do los locos", como de costume cheios de artes e motivos das festividades e mitologias funerárias mexicanas. Povo que vive uma relação diferente da nossa, pelo menos do ponto de vista estético. É uma festa originalmente indígena, violentada pela presença européia que, sincretismos à parte, transformou-se em patrimônio cultural da humanidade.

Lembro ainda dos tempos de faculdade, da leitura de Otávio Paz e seu "labirinto da Solidão", livro no qual o autor desnuda a alma do povo mexicano, tão vulnerável, mimetiza outras personalidade com as máscaras no Dia dos Mortos e em outros eventos - lembrei da gente no Brasil em Carnaval, 20 de setembro e Copa do Mundo...

Mesmo com todas as dificuldades que geralmente temos para falar da morte, e apesar das diferentes experiência de/com a morte, prefiro a perspectiva mexicana - e não deles - que aponta para a morte como parte de um ciclo: o difícil é saber se estamos prontos para fase seguinte...até onde eu sei, não há "reset" como no Counter Strike (que eu nunca joguei! [ainda!])

Deixo aqui texto para refletir sobre o feriadão:

A MORTE

Bagwan Sri Rajneesh

Discurso proferido no Buddha Hall no Koregaon Park, Pune, Índia

Vida está no viver. Não é uma coisa, é um processo. Não há modo de nos relacionarmos com a Vida a não ser vivendo-a, a não ser estando vivos, a não ser fluindo com ela.

Se se procurar o significado da Vida nalgum dogma, nalguma teologia, numa filosofia, esse é o caminho certo para perder ambos, a Vida e o seu significado. A Vida não está algures à sua espera. Está a acontecer em si, não está no futuro como um bem a ser atingido. Está aqui e agora, neste preciso momento, na sua respiração, circulando no seu sangue, no seu coração.

Seja o que for que você é, é a sua vida. E se começar a procurar significados nalgum outro lugar, não vai encontrá-la. E o Homem fez isso durante séculos. Os conceitos tornaram-se muito importantes, as explicações tornaram-se muito importantes e o real é completamente esquecido. Nós não olhamos para o que sempre esteve aqui, antes queremos racionalizações.

Ninguém vos pode dar o significado da vossa vida. É a vossa vida. O significado tem, também, que ser vosso. Ninguém vo-lo pode dar. Os Himalaias não irão ajudar. Só você o pode descortinar, só a si ele é acessível.

A primeira coisa que gostaria de vos dizer é: não o procurem em qualquer outro lado. Não o procurem em mim, nas escrituras, em explicações. Elas não explicam nada. Elas simplesmente sobrecarregam a vossa mente, não os tornam conscientes daquilo que realmente existe. Quanto mais a mente estiver sobrecarregada com conhecimento morto, mais atordoados e estúpidos vocês se tornam. O conhecimento torna as pessoas estúpidas, turva a sua sensibilidade, torna-se para elas um peso e desenvolve-lhes o ego, em vez de as esclarecer e de lhes mostrar o caminho. Nem isso seria possível. A Vida já está borbulhando dentro de vocês e só lá pode ser encontrada, não fora de vocês; vocês são o altar da Vida.

Assim, a primeira coisa a reter, se quiserem saber o que é a Vida, é nunca a procurarem fora, nunca procurarem descobri-la a partir de outra pessoa, porque não pode ser transferida desse modo. Os maiores mestres nunca disseram nada sobre a Vida, eles sempre a enviaram de volta a vós mesmos. A segunda coisa a reter é que se vocês souberem o que a vida é, saberão o que a morte é. Porque a morte é também parte do mesmo processo.

Habitualmente pensamos que a Morte vem no fim, pensamos que a Morte é contra a Vida, pensamos que ela é o inimigo. Mas a Morte não é o inimigo. E se você pensa que a Morte é o inimigo, isso só mostra que não foi capaz de saber o que a Vida é. Morte e Vida são duas polaridades da mesma energia, do mesmo fenômeno. A maré alta e a maré baixa, o dia e a noite, o verão e o inverno, não são opostos, mas sim complementares. A Morte não é o oposto da Vida, na verdade é a culminância da Vida, o zênite de uma vida, o clímax, o final. E quando você conhecer a sua vida e o seu processo, conhecerá o que a morte é; a Morte é uma parte integral e orgânica da Vida, e é muito amigável e cooperante com ela. Na verdade, a Vida não pode existir só por si. Ela existe por causa da Morte. Esta é o seu pano de fundo. De fato, a Morte é um processo de renovação. A Morte surge a cada momento, tal como acontece com a Vida. A renovação é necessária a todos os momentos. Quando você inspira, vai precisar expirar. Ambos os movimentos são necessários. Ao inspirar a Vida acontece, ao expirar a Morte acontece. É por isso que quando uma criança nasce, a primeira coisa que vai fazer é inspirar; então, a vida começa. Quando uma pessoa está moribunda, no seu último momento ela expira, e a Vida se solta. Expirar é Morte, inspirar é Vida. Ambas são como as rodas de um carro de bois. Você vive pela inspiração tanto quanto pela expiração. A expiração é parte da inspiração. Você não pode viver se parar de expirar. Você não pode viver se parar de morrer. Quem compreendeu o que a Vida é, permite que a Morte tenha lugar, recebe-a satisfeito. Uma pessoa morre a cada momento e a cada momento ressuscita. A sua cruz e a sua ressurreição estão acontecendo constantemente, como um processo. Se você discernir o que a Vida é, será capaz de discernir o que a Morte é. Se compreender o que a Morte é, então e só então, será capaz de compreender o que a Vida é. São orgânicas.

Comumente, devido a medos, concebemos uma divisão; pensamos que a Vida é o Bem e que a Morte é o Mal, que a Vida é para ser desejada e a Morte para ser evitada. E que, de alguma forma, temos de nos proteger da Morte. Ideia absurda. Porque aquele que se protege da Morte, torna-se incapaz de viver. É como alguém temeroso de exalar e que, por isso, fica incapaz de inalar. E então bloqueia. E assim, simplesmente se atém com avidez, a sua vida não é mais um fluir, um rio. Se você quer realmente viver, tem de estar pronto para morrer. Quem tem medo da Morte em você? A Vida tem medo da Morte? Não é possível que a Vida tenha medo do seu próprio processo integral! Então é outra coisa que, em você, tem medo. É o ego que tem medo dentro de si. Vida e Morte não são opostas. Ego e Morte são opostos. Vida e Morte não são opostas. Ego e Vida são opostos. O ego é contra ambas, a Vida e a Morte. O ego tem medo de viver. Tem medo de viver porque cada esforço, cada passo, em direção à Vida, torna a Morte mais próxima. À medida que você vive, vai-se tornando mais próximo de morrer. O ego teme viver e teme morrer. O que o ego faz é, simplesmente, apegar-se avidamente. Há muitas pessoas que não estão nem vivas nem mortas. Isso é o pior de tudo. Uma pessoa que está cheia de Vida está cheia de Morte também. É esse o significado de Jesus na cruz, o qual não foi bem compreendido. Jesus carrega a sua própria cruz e diz aos discípulos: vocês terão, também, de carregar a vossa própria cruz. O significado de Jesus carregar a sua cruz não é senão este muito simples: toda a gente tem de carregar a sua morte continuamente e toda a gente tem de morrer em todos os momentos. Toda a gente tem de viver na cruz porque essa é a única forma de viver plenamente. Quando se depararem com um momento de perfeita plenitude de Vida, então, subitamente, verão isso também. E aperceberão Vida e Morte como uma ação conjunta. E, ao contrário, se estiverem minimamente despertos, então verão Vida e Morte separadas. Quanto mais perto estiverem do Alto mais elas se aproximam, até que, no limite, se tornam uma única realidade. No amor, na meditação, na confiança, onde a vida se torna plena, isso acontece. Sem isso, a vida não pode ser plena.

Porém, o ego pensa sempre em divisões, em dualidades, ele, na verdade, tudo divide. Contudo, a distância é indivisível, não pode ser dividida. Vocês foram crianças, depois tornaram-se jovens. Podem marcar a linha, no tempo, em que passaram a ser jovens, em que deixaram de ser crianças? Um dia tornar-se-ão velhos. Poderão traçar a linha a partir da qual passarão a ser velhos? Os processos não podem ser divididos. Acontece exatamente o mesmo no nascimento. Poderá demarcar-se quando a vida realmente começa? Começa quando a criança principia a respirar? Quando a criança surgiu no útero, a mãe engravidou, a criança foi concebida, começa aí a vida? Ou mesmo antes disso, quando é que a vida realmente começa? É um processo infindável e sem início! Nunca começa. Quando uma pessoa morre, quando a respiração pára, estará então a pessoa morta? Muitos iogues provaram, numa base científica, que são capazes de interromper a respiração e continuar vivos. Então, a paragem da respiração não pode ser o fim. Onde acaba a vida? Não acaba nunca. E não começa nunca, em lado nenhum. Estamos envolvidos em eternidade, estivemos aqui desde o início, caso tivesse havido algum início, e iremos estar aqui até ao fim de tudo, caso viesse a haver algum fim de tudo. Na verdade, não pode haver qualquer início nem qualquer fim. Nós somos Vida!

As formas mudam, os corpos mudam, as mentes mudam. Aquilo a que chamamos vida é somente a identificação com um determinado corpo, com uma determinada mente, com uma determinada atitude. E aquilo a que chamamos morte não é senão sairmos dessa forma, sairmos dessa mente, sairmos desse conceito. Vocês mudam de casa. Se se identificarem em demasia com uma casa, então mudar de casa será muito penoso, pensarão que, de certa forma, estarão morrendo; porque o conjunto da casa era o que vocês eram, era a vossa identidade; porém, isso não acontece porque sabem que estão só a mudar de casa e que permanecem os mesmos. Aqueles que olharam para dentro de si, os que encontraram quem realmente são, aprendem sobre um eterno e infindável processo. A Vida é um processo sem tempo, para além do tempo. A Morte é parte dele. A Morte é uma contínua renovação, uma ajuda à Vida para ressuscitar outra e outra vez. Uma ajuda à Vida para se livrar de velhas formas, de edifícios dilapidados, de velhas estruturas confinantes para que de novo vocês se possam sentir novos, frescos, e outra vez se possam tornar virgens.

Tudo retorna à sua fonte original. Tem de ser assim. Se você compreende a Vida, compreende igualmente a Morte. A Vida é um esquecimento da fonte original e a Morte é a sua lembrança novamente. A Vida vai-se afastando da fonte original, a Morte é o regresso a casa. A Morte não é feia, a Morte é linda. Mas é linda só para aqueles que viveram a sua vida de forma livre, desinibidamente, sem repressões, que a viveram de forma linda, sem medo de viver, para os que tiveram a coragem de viver, que amaram, que dançaram, que celebraram a Vida. A Morte torna-se na maior celebração quando a vida foi uma celebração. Deixem-me pôr o assunto da seguinte forma:

― Seja a vossa vida qual seja, a morte apenas traduz isso. Se foram indignos em vida, a morte vai revelar indignidade. A Morte é uma imensa reveladora. Se foram felizes em vida, a morte revela felicidade. Se viveram uma vida unicamente voltada para conforto físico, prazer físico, então, é claro, a morte irá ser muito desconfortável e desagradável. Porque o corpo tem de ser deixado, ele é unicamente uma residência temporária, um altar no qual nós ficamos durante a noite e temos de deixar pela manhã. Não é a vossa residência permanente, não é o vosso lar.

Assim, se viveram uma vida unicamente orientada fisicamente e nunca conheceram nada para além do corpo, a morte irá ser muito, muito …feia, desagradável, dolorosa, a morte será uma angústia. Mas se viveram um pouco mais alto que o corpo, se amaram a música e a poesia, se olharam e amaram as flores, e se algo do não-físico passou a fazer parte da vossa consciência, a morte não será tão má, não será tão dolorosa, e você poderá encará-la com equanimidade, embora não possa, ainda, ser uma celebração. Contudo, se você viveu algo do transcendente dentro de si, se penetrou a sua própria ausência no centro do seu ser, não mais um corpo, não mais uma mente, onde os prazeres físicos estão completamente deixados para trás e os prazeres mentais também, prazeres de música, de poesia, de pintura e literatura, se de tudo se desapegou completamente e você é simplesmente, unicamente, pura consciência, a morte será uma grande celebração, um grande entendimento, uma grande revelação. Se aprendeu algo do transcendente em si, a morte revelar-lhe-á algo do transcendente do universo. Não será mais uma morte, mas um encontro com Deus.

Assim, você poderá encontrar três formas de expressar a Morte:

― Na história da mente humana, uma expressão é a do homem comum, que vive apegado ao corpo, nunca conheceu algo mais elevado que o prazer da comida e do sexo, em que a vida foi somente comida e sexo, muito primitiva e grosseira, e viveu pensando que isso é tudo o que a Vida é. Então, no momento da morte, ele procurará agarrar-se à vida, lutará contra a morte, a morte virá como o inimigo e será vista como algo negro e diabólico. Estas pessoas não entenderam todas as dimensões da Vida, não foram capazes de tocar a profundidade da Vida, de voar para as alturas da Vida, passaram ao lado da plenitude, da bênção, da graça divina.

― Depois, há um segundo tipo de expressão da Morte. Poetas e filósofos, disseram algumas vezes que a Morte não é má, nada diabólica, que é somente um grande descanso, como um sono. Isto já é melhor que a primeira expressão. Pelo menos, estas pessoas aprenderam algo para além do corpo, aprenderam algo da mente. A sua vida não foi gasta somente a comer e a reproduzir-se. Com uma pequena sofisticação da alma, eles são um pouco mais nobres, mais refinados culturalmente; porém, eles dirão que a morte é como um grande repouso, que, estando cansados, vamos descansar. Eles, também, estão longe da verdade.

― Finalmente, os que conheceram a Vida no seu mais profundo âmago, dizem que a Morte é Deus. Não só um repouso, mas uma ressurreição, uma nova vida, um novo recomeço, uma nova porta que se abre.

Assim, a primeira questão, a questão mais fundamental é: Como viver? Deixem-me dizer-vos algumas coisas antes: A vossa vida é a vossa vida, não é de mais ninguém. Por isso, não vos permitam ser dominados por outros. Não vos permitam ser comandados por outros. Isso é uma traição à Vida. Se permitirem ser comandados por outros, vossos pais, a sociedade, o sistema educacional, os políticos, os padres, seja quem for, se permitirem o domínio de outros, irão perder a vossa própria vida, porque a dominação vem de fora enquanto a Vida está dentro de vós mesmos. Elas nunca se encontram. Eu não vos estou a dizer que se tornem uns “cofres fechados” em relação a tudo e mais alguma coisa. Isso não seria de grande utilidade.

Há dois tipos de pessoas, um é o tipo de pessoa muito obediente, sempre pronta a se render a toda e qualquer pessoa; estes não têm uma alma independente no seu interior, são imaturos, infantis, procuram sempre a figura do pai, alguém para lhes dizer o que fazer e não fazer, incapazes de confiar no seu próprio ser. Estas pessoas são a esmagadora maioria no mundo, são as massas. Depois, contrariamente a estas, há uma pequena minoria de pessoas que rejeitam a sociedade, que rejeitam os valores da sociedade, e que pensam que são rebeldes, mas não são, são apenas reacionários. Porque em boa verdade, quer vocês sigam a sociedade quer a rejeitem, se esta permanecer, de algum modo, como o referencial determinante, então são, em ambas as situações, dominados pela sociedade.

Deixem-me contar-vos uma anedota:

― Uma vez, Mulin Sudin, que deixara a sua terra por algum tempo, regressou à vila usando uma longa barba. Os seus amigos, naturalmente, saudaram a sua barba e perguntaram-lhe porque razão a usava. Ele, porém, não se mostrou agradado com a barba e começou mesmo a praguejar contra ela. Os amigos, espantados com a forma como ele falava, perguntaram-lhe porque continuava a usar barba se não gostava dela. Eu odeio esta maldita coisa, respondeu ele. Se a odeias, porque não a cortas e te vês livre dela, perguntou um dos amigos. Um maléfico fulgor assomou aos seus olhos quando respondeu: porque a minha mulher também a odeia.

Mas isso não o torna livre. Os “hippies”, “punks”, etc., não são, realmente, pessoas rebeldes, são reacionárias. Só reagiram contra a sociedade. Uns são obedientes, eles são desobedientes; mas o centro de dominação é o mesmo. Alguns obedecem, alguns desobedecem, mas nenhum olha para o seu próprio âmago. A pessoa verdadeiramente rebelde é a que não é nem pela sociedade nem contra a sociedade, mas a que vive simplesmente de acordo com a sua compreensão. Seguir a favor ou contra a sociedade não constitui preocupação para ele. Vive de acordo com a sua compreensão, de acordo com a sua pequena luz. Isto não é dizer que ele se torna egoísta. Ele é modesto. Sabe que a sua luz é pequena, mas é toda a luz que existe. Sabe que pode estar enganado, é modesto e diz: posso estar enganado mas, por favor, permitam que me engane quando atuo de acordo comigo próprio.

Este é o único caminho para aprender, cometer erros é o único caminho para aprender. Movermo-nos de acordo com o nosso entendimento é o único caminho para crescermos e amadurecermos. Se você estiver sempre voltado para alguém que dá as orientações, quer obedeça, quer desobedeça, não faz qualquer diferença porque nunca será capaz de saber o que a sua vida é; ela é para ser vivida e você tem de seguir a sua própria pequena luz; nem sempre se está seguro sobre o que fazer e você poderá sentir-se muito confuso: aceite isso. Mas, também, não deixe de procurar um caminho para sair da sua confusão. É muito simples e fácil ouvir os outros porque eles nos podem fornecer, numa bandeja, dogmas, orientações (faz isto, não faças aquilo), e estão muito seguros acerca dos seus conselhos.

A certeza não deve ser procurada, mas sim a compreensão. Se procurarem a certeza serão vítimas de uma armadilha ou outra. A certeza pode ser-lhe dada de barato, qualquer pessoa vo-la pode dar, mas, em última análise, você será um perdedor. Perdeu a sua vida só para se sentir seguro e certo. A Vida não é certeza nem tão-pouco segurança. A Vida é insegurança. Cada momento é um movimento para mais e mais insegurança. É um jogo. Nunca sabemos o que vai acontecer. E é lindo que não o saibamos. Se a vida fosse previsível, não valeria a pena ser vivida. Se tudo fosse como você gostasse que fosse e tudo fosse seguro, você não seria Homem, seria máquina. O Homem vive na liberdade. E a liberdade precisa de insegurança e incerteza. O verdadeiro Homem de inteligência é sempre hesitante. Porque ele não tem qualquer dogma com que contar, para se encostar, ele tem de ver e responder. Que seja admirado aquele que diz: “estou hesitante e movo-me na vida vacilante porque não sei o que vai acontecer e não tenho qualquer posição de princípio para seguir. Tenho que decidir a cada momento, nunca tomo decisões antecipadamente, tenho que decidir quando o momento chega”.

Assim, ter de se ser muito empático e isso é o que a responsabilidade é. A responsabilidade não é uma obrigação, um dever, é uma capacidade para corresponder. Alguém que queira saber o que a vida é, tem de ter a capacidade de saber corresponder. Ora isso está hoje em falta. Séculos de condicionamentos tornaram-vos mais como máquinas. Vocês perderam a verticalidade. Vocês esmolaram a segurança; estão seguros e confortáveis, mas tudo foi planeado por outros que tudo definiram e estabeleceram; eles rebentaram tudo. E, assim, é tudo uma tontaria absoluta porque, na verdade, a Vida não pode ser destruída, é indestrutível. E nada pode ser rígido porque tudo está em constante fluxo. Tudo se transforma a cada instante. À exceção da mudança nada é permanente. Como diz Heráclito: “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio”.

Os caminhos da Vida são muito em ziguezague. O modo da Vida não é como uma linha de comboio, não se desenvolve por linhas previamente traçadas; e é isso que constitui a sua beleza, a sua glória, a sua poesia, a sua música, i.e., o fato de conter uma permanente surpresa. Se você estiver à procura de segurança e de certezas, os seus olhos fechar-se-ão progressivamente, será cada vez menos surpreendido e, então, perderá a capacidade de se maravilhar. Uma vez perdida essa capacidade, você terá perdido a religião. A religião é o desabrochar do maravilhoso no seu coração. A religião é a receptividade para os mistérios que nos rodeiam.

Deste modo, a primeira regra é: não peçam a ninguém que vos diga como viver a vossa vida. A Vida é um bem tão precioso! Simplesmente viva-o. Não digo que não irão cometer erros, cometê-los-ão. Porém, não esqueçam uma coisa: não cometam o mesmo erro, vez após vez. Isso é suficiente. Se forem capazes de encontrar um novo erro todos os dias, cometam-no. Mas não repitam erros, isso é tolo. Uma pessoa capaz de encontrar novos erros está em contínuo crescimento. E esse é o único caminho para aprender. É o único caminho capaz de alcançar a vossa luz interna.

Procurar a Verdade nas Escrituras, em filosofias é como olhar para a lua cheia através do seu reflexo num pote de água. Se você perguntar a alguém como deverá viver a sua vida, estará, necessariamente, a pedir uma orientação enganadora porque essa pessoa só pode falar acerca da sua própria vida, e duas vidas nunca são iguais. Tudo o que essa pessoa lhe disser e transmitir será acerca da vida dela, e mesmo isso ela pode ter perguntado a outra pessoa. Ela pode ter seguido ou imitado uma terceira pessoa. Seria então o reflexo do reflexo. E os séculos passam e as pessoas vão refletindo a reflexão da reflexão enquanto a verdadeira lua e o céu sempre estiveram lá à vossa espera. É a vossa lua. É o vosso céu. Olhem diretamente. Sejam espontâneos quanto a isso. Vocês receberam lindos olhos para ver diretamente. Porque, então, pedir emprestado o entendimento? Lembrem-se, mesmo que isso se aplique ao meu caso: no momento em que tomam emprestado, torna-se conhecimento, não entendimento, sabedoria. A sabedoria emerge só do que é experienciado pela própria pessoa. Pode ser sabedoria para mim se eu tiver olhado a lua, mas no momento em que eu lhes transmito a minha experiência, torna-se conhecimento para vocês. Não mais é entendimento. Nessa altura é algo simplesmente verbal, linguístico. E a linguagem é uma mentira. Muitas pessoas vivem as suas vidas como professores de línguas. Esse é o mais falso modo de vida. A Realidade não precisa de linguagem. Está disponível a todos num nível não verbal. A lua está lá. Não precisa do pote nem do reflexo. Não precisa de qualquer intermediário. Você só precisa olhar para ela. É uma comunicação não verbal.

A Vida inteira está à vossa disposição, só precisam aprender a comunicar, não verbalmente, com ela. É disso que se trata na meditação: estar nesse espaço onde a linguagem não interfere, onde os conceitos eruditos não se intrometem entre você e o Real. Quando você ama uma mulher, não se preocupa com o que os outros disseram acerca do amor. Isso tornar-se-ia uma interferência. Você ama a mulher, o amor está lá. Esqueça tudo o que aprendeu acerca do amor. Esqueça todos os conselhos, esqueça todos os mestres. Por favor, não se torne um professor de linguística. Ame simplesmente a mulher, deixe o amor estar presente, deixe o amor liderá-lo e conduzi-lo aos seus mais íntimos segredos, aos seus mistérios. Então sereis capazes de saber o que é o Amor.

O que os outros dizem sobre meditação não tem qualquer interesse. Bastantes pessoas discursam sobre meditação, escrevem livros sobre meditação, dão aulas de meditação onde orientam muitos alunos sem, no entanto, a terem verdadeiramente provado alguma vez. Este é também o caso de milhões de pessoas que falam do Amor, que sabem todas os poemas acerca do Amor, mas que nunca amaram. E mesmo que pensassem que estavam enamorados, nunca o estiveram. É, para eles, uma questão da cabeça, não do coração.

As pessoas vivem e, contudo, perdem a Vida. É preciso coragem para se ser realista, é preciso coragem para nos deixarmos mover pelo fluxo da vida seja para onde for que ele nos leve. As partes do processo não estão esquematizadas, não há definições, há que avançar para o desconhecido. A Vida só pode ser compreendida se se estiver preparado para avançar para o desconhecido. Se você se apega ao conhecido, apega-se à mente, e mente não é Vida. A Vida não é mental, intelectual, porque a Vida é plena, total. E a vossa totalidade tem de estar envolvida nela, não se pode simplesmente pensar, discorrer acerca dela. Pensar acerca da Vida, não é Vida. Tenham cuidado com esses “discorreres”. Muitas pessoas pensam sobre a Vida, o Amor, Deus, isto e aquilo. E falam sobre isso. Falar sobre a Vida é o mesmo que pensar sobre a Vida. Nem mais. Não se torne um professor de linguística, um papagaio; os papagaios são professores de linguística. Eles vivem em palavras, conceitos, teorias, teologias, e a Vida continua a passar-lhes ao lado.

Refletindo nisso, um desses líderes tornou-se temeroso da morte. Quando alguém tem medo de morrer, é certo que essa pessoa não encontrou a Vida.

Quando se encontra a Vida, não pode haver qualquer medo da Morte. Se uma pessoa viveu a Vida, estará preparada para viver também a Morte.

ηαмαىτε
मस्त



Ahhhh... Voodoo?? escute abaixo...