sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Pra não dizer que não falei das flores


Ficha Técnica
Ilha das Flores

País/Ano de produção:- Brasil, 1989
Duração/Gênero:- 13 min., documentário
Disponível em vídeo (na fita "Curta com os Gaúchos")
Direção de Jorge Furtado
Roteiro de Jorge Furtado
Elenco:- Ciça Reckziegel, Gozei Kitajima, Takehijo Suzuki.
Narração de Paulo José.

Os vinte anos do curta "Ilha das Flores" podem ser uma importante comemoração para o cinema, já que é um trabalho marcante; daqueles que dividem a história em antes e depois. A marcação rápida das imagens, sobrepondo conceitos de uma forma que nos faz "espremer" os olhos de atenção; tangenciadas pela brilhante narração de Paulo José, fazem dos 13 minutos do documentário uma viagem impossível de ser feita uma única vez!

É preciso rever e revisitar o curta para ir pegando as sutilezas da linguagem, da estética, da política e da denúncia existentes no filme. O ritmo de cores e imagens nos hipnotizam, e o desenrolar da trama nos choca pelo simples fato de que tudo aquilo é tão real (e atual!!). A violenta poesia do "Ilha" também nos leva à reflexão sobre o que foi feito do mundo nos últimos vinte anos.

Penso que essa é a principal contribuição do filme: nos deixar um retrato do final dos anos 80 para ser visto e comparado com a "obra" que realizamos ao longo dos anos com nosso tele-encéfalo altamente desenvolvido e nossos dois polegares opositores.

O filme também é uma boa ferramenta para o trabalho na escola. Antes de despejar quilos de literatura sociológica ou histórica para falar sobre o capítalismo, basta assistir o filme e depois procurar em cada cidade, nossas "ilhas". Certa vez, em 2001, realizei um trabalho com turmas de 3º ano do Ensino Médio do Instituto Romaguera CorrÊa, aqui em Uruguaiana, que consistia numa proposta de pesquisa participativa, embasada por algumas problematizações e pelo suporte teórico mínimo dos livros "as veias abertas da América Latina" de Eduardo Galeano, "As origens da Pobreza no Rio Grande do Sul" de Teófilo Torrontegui e, é claro, o vídeo "Ilha das Flores", de Jorge Furtado (como não sei ainda "upar" documentos não deixo o projeto à disposição aqui, quando aprender eu faço isso. Prometo!), Também encontrei uma outra proposta de abordagem aqui. Com o limite de que ambas as experiências são dirigidas para "observadores" das questões tratadas. Precisamos avançar, numa perspectiva freireana e popular, com iniciativas de organização e educação popular construídas com e pela base (mas isso é outro bom e longo papo!)

Em 2009, a Ilha dos Marinheiros continua lá, a Ilha das Flores também! (veja um comentário de um morador da Ilha ao final de um texto no Recanto das Letras)

Em Uruguaiana temos centenas de famílias que fazem da coleta de materiais sua fonte de renda. No lugar de terem apoio e respaldo de políticas públicas, para contribuirem com a questão ambiental e também s eorganziarem enquantoalternativa de sustento, sofrem de um grande descaso e de uma triste "invisibilidade"; todos olham, poucos veem (sem acento pela regra nova, né?). Nosso "lixão" que deveria ser aterro sanitário segue sendo resolvido com "termos de ajustamento" assinados em refrigerados e cheirosos gabinetes, enquanto o chorume vai chegando aos nossos mananciais de água e dezenas de pessoas, homens, mulheres e crianças estão lá expostos ao que de mais insalubre e degradante pode existir: o desprezo.

A RBS TV vai passar no sábado, 07/02, perto do meio-dia, mas também é possível assistir "Ilha das Flores" no Porta Curtas ou no You Tube Parte 1, Parte 2 e Parte 3

Bom! Agora vou almoçar...