sábado, 1 de maio de 2010

1º de Maio e algo mais

Quando comecei a escrever neste espaço, um dos temas mais candentes era a posse de Obama, lá em janeiro de 2009. Lembro que dediquei algumas postagens a este fato, repercutindo inclusive seu discurso de posse. Confesso que não era dos mais céticos e chegava a nutrir algumas esperanças de que fosse possível um novo patamar de relações internacionais! Claro que isso era pura ingenuidade da minha parte!

Nos últimos dias, as principais cidades norte-americanas foram arrebatadas por grandes manifestações em protesto às políticas de Barak.
As manifestações foram também uma oportunidade para mostrar que a população não está satisfeita com a atuação de Barack Obama, já que boa parte de suas promessas continua no papel. Em artigo para a Radio del Sur, Victor Toro esclarece a necessidade das mobilizações populares nos Estados Unidos. "A recessão não parou, o desemprego ultrapassa os 20%, em alguns povos e cidades se manifesta mortalmente em até 30%, a isso agreguemos o desemprego crônico, os desamparados, a população encarcerada, os dependentes químicos e doentes crônicos, há que os somar por milhões". Ver ADITAL

No mundo todo, protestos revelaram as repercussões da crise capitalista dos últimos tempos. na Europa a taxa de desemprego média chega a 10%, com alguns países um pouco acima desse número.

Enquanto isso, no Brasil, onde temos uma cultura de conciliação, a maioria das atividades foi festiva.
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Mas coincidiu com o 1º de Maio a leitura do livro de Mário Sérgio Cortella; "Qual é a tua obra?".
Título instigante e leitura idem!
Cortella - que trabalhou diretamente com Paulo Freire e isso, por si só, já é um grande currículo - desenvolve um texto saboroso, de leitura tão fácil quanto profunda. Daqueles textos que te leva conversando com o autor.
Pensando sobre a questão do trabalho, ele traz várias reflexões, mas em especial no segundo capítulo (vou confessar, comecei a ler hoje e ainda tô na metade!), Cortella compara o sentido e a origem etimológica da palavra "trabalho" (do latim "tripalium", denota algo torturante e doloroso) e nos mostra, de forma simples, como esta visão persiste até hoje.

E então nos convida a revisar este conceito e pensar o trabalho como o termo grego "poiesis", que quer dizer "minha obra", "aquilo que faço".
É verdade que os gregos não viam assim todos os tipos de trabalho, e o próprio Platão considerava  que somente "homens ociosos [corresponderiam] moralmente ao ideal de ser humano e [mereceriam] ser cidadãos por inteiro".
Esta comparação entre "tripalium" e "poiesis", me fez lembrar da reflexão marxiana sobre o trabalho alienado e a emancipação da classe trabalhadora, também lembrado pelo autor (tema propício para este dia!).

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Mas preciso confessar que o trecho que me deixou mais inquieto até agora foi quando o autor fala sobre o desejo e a busca de espiritualidade.  Este trecho me tocou de forma direta:


"O desejo por espiritualidade é um sinal de descontentamento muito grande com o rumo que muitas situações estão tomando e, por isso, é uma grande queixa. E a espiritualidade vem à tona quando você precisa refletir sobre si mesmo; aliás a espiritualidade é precedida pela angústia. De maneira geral, a angústia é um sentimento sem objeto. Quando você fica triste, é por alguma coisa. Quando você está alegre, é por algum motivo. A angústia se sente e não identifica o objeto. Você se levanta e 'não sei o que está acontecendo, estou com uma coisa, um aperto aqui no peito'. É uma sensação de vazio interior.


Martin Heidegger, grande filósofo alemão do século XX, dizia que a angústia e a sensação do nada. E ela é positiva num ponto, pois o nada é a possibilidade plena. Quando se pode sentir o 'nada', todas as opções se apresentam e todos os horizontes são possíveis. (...) a espiritualidade é um desejo forte de a vida ter sentido, de ela não se esgotar nem naquele momento, nem naquele trabalho."
E por aí vai...

Mas como sempre vivi minha espiritualidade de maneira um pouco conflituosa, acabei lembrando de outra leitura que tem me inquietado. Um livrinho de Pedro Demo, chamado "AUTO-AJUDA: Uma Sociologia da Ingenuidade como Condição Humana".
"No fundo a espiritualidade é importantíssima porque oferece um dos horizontes fundamentais da vida, que é sentido. Como a proposat de sentido nunca está necessariamente isenta de ilusões, a espiritualidade não deixa de ser dúbia: quando se acomoda em religião específica, tornando-se fundamentalista, pode tornar a pessoa aind amais feliz, por conta de certezas que embalam um mundo tão incerto, ma sisso é pago com alienações preocupantes ou mesmo insuportáveis para espíritos mais críticos."
 E por aí vou...
(continua)