Depois de catapultada à condição de celebridade nacional e arrancar aplausos ao movimento grevista de várias redes de ensino no "Domingão do Faustão", a professora Amanda Gurgel continua repercutindo, com coerência, a luta em defesa da educação pública, pela valorização d@s trabalhador@s em educação pelo comprometimento de 10% do PIB com financiamento da educação brasileira.
Abaixo reproduzo:
Carta da professora Amanda Gurgel ao júri do 19º Prêmio PNBE
Natal, 02 de julho de 2011Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação.
Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecom e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.Por essa razão, não posso aceitar esse prêmio.
Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,Professora Amanda Gurgel
* PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
Quer saber sobre o tal PNBE? Acesse o site http://www.pnbe.org.br/ (inclusive a Carta é comentada e, de certa forma, rebatida. lá!)