domingo, 26 de abril de 2009

Currículo (ou "Quem define o que sabemos II")

Na postagem "Quem define o que sabemos", de alguns dias atrás estava pensando um pouco mais sobre a mídia e seu poder de construção de realidades, definindo o que aparece, como aparece e também o que NÃO deve aparecer e nem ser sabido.

Pois seguindo ainda nessa pespectiva meio gramsciana de verificar as grades invisíveis da nossa sociedade, é impossível não pensar no papel da escola e dos programas de conteúdos desenvolvidos ano após ano.

Antes dos debates teóricos e metodológicos sobre como ensinar, também devemos questionar O QUÊ ensinar (ou melhor; estas questões são indissociáveis).

Para contribuir nessa reflexão trago o artigo do Professor Selito Rubin que questiona a posição da Secrataria de Educação do RS ao lançar as "Lições do Rio Grande". Certamente esse texto - que foi publicado no Jornal Tribuna - deve circular pelas nossas escolas (que aliás recebem um exemplar semanal do referido jornal em troca da coluna mantida pelo próprio professor).

LIÇÕES DESEJADAS?!
Prof. Selito Durigon Rubin sdrubin@superig.com.br www.pucrs.campus2.br/~selito/
Em 03 de março de 2009 a Senhora Secretária de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, Profa. Mariza Abreu escreveu em coluna do Correio do Povo (p. 4), com o título de "Lições do Rio Grande" no penúltimo parágrafo: "A partir de então, a autonomia pedagógica da escola consiste em escolher o como ensinar, mas não o que ensinar. Consiste na autonomia didático-metodológica da escolha do método de ensino, mas não no direito de não ensinar, como respeito ao direito de aprender dos alunos". O parágrafo anterior diz: "A Proposta de Referencial Curricular apresenta as habilidades e as competências cognitivas e os conteúdos mínimos que devem ser desenvolvidos...."
É difícil entender que é texto escrito por professora que participou de movimentos sociais. É difícil entender que estejamos a um passo de um currículo com conteúdos específicos predeterminados, com enfoque conteudístico e competências e habilidades cognitivas predeterminadas. Nem as velhas teorias de currículo expostas por Tyler com as três fontes do currículo (cultura, sociedade e aluno), com os seus filtros filosóficos e psicológicos são levadas em conta.
Muito menos a proposta da UNESCO para a educação do século XXI - Relatório Delors - (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser) é levada em conta. Ao menos é o parece, o que dá a entender o texto. A LDBEN em seu artigo 12 expressa que cabe ao estabelecimento de ensino "elaborar e executar sua proposta pedagógica" (item l), respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino. A Proposta de Referencial Curricular é afinal proposta ou é definição? Ou o desejo da secretária é diferente do texto "Proposta de Referencial Curricular". Se à escola cabe apenas a parte metodológica, não há respeito à LDBEN e nem ao título do texto "Proposta...". Em meu artigo publicado em 28 de fevereiro de 2009, nesta coluna com o título "Currículo da educação básica", após leitura compreensiva, transcrevi resumo dos cinco cadernos do MEC sobre indagações sobre o currículo. O Rio Grande do Sul não participará em 2009 deste debate nacional?
A partir de meus estudos teóricos, inclusive sobre teoria curricular, de minha docência universitária na área de educação e como coordenador pedagógico e escolar, entendo que educação escolar faz-se, no mínimo, com proposta político-pedagógica, com visão teórica e com especificidade relacionada ao conhecimento oportunizado pelos componentes curriculares. E claro, com metodologia adequada, que respeite o aluno como sujeito da aprendizagem. É "capenga" a educação escolar que só exclusiviza uma dimensão.
Educação sempre é e será a conjugação entre teoria/proposta/visão pedagógico-filosófico-social-política, necessidades sociais e conhecimento. E como acrescentaria o velho Tyler, o aluno a quem é destinada a educação escolar.
Mesmo quem diz que não tem, executa alguma proposta, sempre com alguma competência metodológica. Então, o que está por trás da "Proposta de Referencial Curricular"?
A preocupação/a ocupação com a qualidade de ensino que é legítima, não pode atropelar conquistas teóricas, nem a participação dos professores, muito menos a legislação nacional. Pelo exposto parece que é apenas necessário ser monitor e não professor para executar a "proposta" curricular.
Estou enganado? Foi uma expressão mal utilizada? Tudo deverá passar por um amplo estudo e debate no Estado e nas escolas?! É o que veremos. (publicado no Jornal Tribuna, Uruguaiana, ano I, nº 36 de 14 de fevereiro de 2009, p. 10)


Aliás, como têm sido os espaços de formação nas diferentes escolas da nossa rede estadual? Há discussão sobre currículo? Em que termos? Temos discutido qual o nosso papel e nossa identidade?



Bom, aí já vamos mais longe...