sábado, 10 de dezembro de 2011

Should I stay or should I go ?*

Sábado. Dez de dezembro. 5h45min. Entrei no táxi que me levaria até a rodoviária para, por fim, rumar a Restinga Sêca, tomado pela sonolência apropriada para um sábado de madrugada. No rádio tocava "Should I stay or should I go". Pensei seriamente na opção 'stay'. Mas resolvi seguir. Algo me fazia querer ir ao encontro do curso de GPP-Gênero e Raça.

Durante os 59 quilômetros que separam Santa Maria da terra de Iberê Camargo, ia eu, na minha versão de  hora perigosa do dia, refletindo e justificando para mim porque fazia aquela pequena travessia mais uma vez.

É justificável. Plenamente!

Pode ser pela possibilidade de partilhar experiências e ouvir relatos das colegas - e do colega -que sempre dão corpo às reflexões que faço solitariamente, mediado pelo MOODLE. Talvez pela pertinência das leituras e discussões propostas que, mesmo quando realizadas na 'solidão' do Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem (AVEA), ganham consequência no dia-a-dia, constroem um outro olhar, uma renovada sensibilidade; fazem pensar melhor nas relações de trabalho; ajudam a perceber melhor os porquês de um chefe ter um tom de voz diferente para tratar com homens e mulheres - e percebendo questionar; e questionando, combater. 
Talvez tenha ido pelos debates que ajudam a entender melhor o porquê de ter uma proporção reduzida de colegas negros e negras onde eu trabalho. 
Ou pelos debates que ajudam a compreender melhor um eventual atraso de uma colega que precisou medicar um filho antes de sair para o trabalho; e reconhecer as diferentes jornadas de mães, filhas, esposas, namoradas que também são estudantes e trabalhadoras - quando não são muitas ou todas estas numa única mulher!

E talvez tenha ido por que o curso tem me proporcionado mais acuidade na percepção das cores de nossa sociedade. As cores dos balcões e das frentes de lojas, as cores dos bancos universitários, as cores das filas por empregos. E com esta visão, percebi que não estamos em 'brancas nuvens' e ainda há muito o que clarear. Aliás, clarear não, né? Precisamos de novas cores. De todas as cores.

Encarei a estrada e o sono desta manhã preguiçosa - mais uma! - por querer me permitir algumas reflexões. Reflexões que, aprofundadas,sistematizadas e compartilhadas, me ajudam a ser um pai melhor, um namorado melhor (alguém responde essas?), um trabalhador e um estudante melhor - e arrisco dizer que até um "ex" melhor.

Possivelmente cheguei a Restinga Sêca hoje também por gratidão. Em agradecimento pelo projeto de mestrado aprovado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFSM, afinal a ideia e o problema de pesquisa surgiu como desdobramento em debates que vivenciei no curso. E boa parte do referencial também veio do curso.

E percebendo tudo isso; lembrando e imaginando várias situações e a dimensão do desafio que é a superação das desigualdades e preconceitos que existem na sociedade, mas também e com muita força, dentro de nós, é preciso ainda apostar e acreditar no esforço individual e coletivo para avançar nestas discussões e na implementação de políticas públicas. Esforço que terá melhores resultados quanto melhor for a educação e a formação sobre gênero, raça, etnia, sexualidade, sociedade, política.
Resultados que passam pelo compromisso e pela militância de diferentes coletivos e movimentos e pelo compromisso do Estado. Estado que, mais do que mobilizado e acionado, precisa ser transformado.

São compromissos e desafios para a construção de um Brasil negro, feminista e com justiça.
Um Brasil socialista?
Por isso, resolvi ir / vir.
On the road. In the way.

*Escrito num dos momentos do encontro em Restinga Sêca, hoje pela manhã.

sábado, 15 de outubro de 2011

Dia 15 de outubro

"Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens [e mulheres] educam-se entre si, mediatizados pelo mundo". P.F.

Ainda bem que alguém, insistentemente, me lembrou que eu SOU professor! É bom sentir-se parte desse quefazer !




Abraços a todas e todos que ousam ensinar e aprender todos os dias em todos os lugares!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Paulo Freire: uma conversa no Chile

Dia desses, numa roda de conversa; uns se espantavam que alguém não conhecesse Iberê Camargo; outros não entendiam como alguém podia não conhecer Milton Santos. Havia quem conhecesse ambos e certamente desconhecesse muitos tantos mais. Pois esta conversa me remeteu a uma das maiores lições de humildade expressas na literatura freireana: não há saber mais ou saber menos; há saberes diferentes [e complementares muitas vezes].

Cuidado! Esta expressão não pode ser banalizada! Rigoroso que era, com toda sua epistemologia, Paulo NUNCA propôs um empobrecimento do conhecimento científico ou sistematizado; apenas extraiu a ciência - a gnosis - de cada prática cultural e os conhecimentos produzidos pelos diferentes fazeres humanos - daí que trabalho seja uma categoria fundamental para Freire desde os anos 50 e 60.

Abaixo reproduzo trecho do livro Pedagogia da Esperança que ilustra bem essa ideia dos diferentes saberes. Socialmente válidos em contextos diferentes.

Em suas andanças, discutindo sobre educação, conscientização e organização popular era comum deparar-se com grupos acostumados ao discurso imobilizante de que nada sabiam ou de que, o que quer que soubessem, não tinha valor frente aos homens cultos e  letrados. Assim foi o encontro com um grupo de camponeses chilenos, já nos anos de exílio, logo após o golpe militar no Brasil.
Minha experiência vinha me ensinando que o educando precisa de se assumir como tal, mas, assumir-se como educando significa reconhecer-se como sujeito que é capaz de conhecer e que quer conhecer em relação com outro sujeito igualmente capaz de conhecer, o educador e, entre os dois, possibilitando a tarefa de ambos, o objeto de conhecimento. Ensinar e aprender são assim momentos de um processo maior – o de conhecer, que implica re-conhecer. (...) Entre outros ângulos, este é um que distingue uma educadora ou educador progressista de seu colega reacionário.  “Muito bem”, disse em resposta à intervenção do camponês. “Aceito que eu sei e vocês não sabem. De qualquer forma, gostaria de lhes propor um jogo que, para funcionar bem, exige de nós absoluta lealdade. Vou dividir o quadro-negro em dois pedaços, em que irei registrando, do meu lado e do lado de vocês, os gols que faremos eu, em vocês; vocês, em mim. O jogo consiste em cada um perguntar algo ao outro. Se o perguntado não sabe responder, é gol do perguntador. Começarei o jogo fazendo uma primeira pergunta a vocês.”

A essa altura, precisamente porque assumira o "momento" do grupo, o clima era mais vivo do que quando começáramos, antes do silêncio.  
Primeira pergunta:  
– Que significa a maiêutica socrática?  
Gargalhada geral e eu registrei o meu primeiro gol.  
– Agora cabe a vocês fazer a pergunta a mim – disse.  
Houve uns cochichos e um deles lançou a questão:  
– Que é curva de nível?  
Não soube responder. Registrei um a um.  
– Qual a importância de Hegel no pensamento de Marx?  
Dois a um.  
– Para que serve a calagem do solo?  
Dois a dois.  
– Que é um verbo intransitivo?
Três a dois.  
– Que relação há entre curva de nível e erosão?  
Três a três.  
– Que significa epistemologia?  
Quatro a três.  
– O que é adubação verde?  
Quatro a quatro.  
Assim, sucessivamente, até chegarmos a dez a dez.  Ao me despedir deles lhes fiz uma sugestão: "Pensem no que houve esta tarde aqui. Vocês começaram discutindo muito bem comigo. Em certo momento ficaram silenciosos e disseram que só eu poderia falar porque só eu sabia e vocês não. Fizemos um jogo sobre saberes e empatamos dez a dez. Eu sabia dez coisas que vocês não sabiam e vocês sabiam dez coisas que eu não sabia. Pensem sobre isto”. 
E por isso que dizia "Ninguém sabe tudo; ninguém ignora tudo..." . E por aí vai...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lei 10.639, historiografia e material didático

No curso de Gestão em Políticas Públicas de Gẽnero e Raça (UAB/UFSM) várias questões provocativas são colocadas a cada unidade. 

Reparto aqui um pouco de uma discussão que perpassa a educação nacional, mas para além disso, toda a formação de noções estéticas, sociais e de imaginário: a inclusão da História e da Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas da educação básica, a partir da lei 10.639, de 2003.

Faltando menos de dois anos para completar uma década de sua sanção, tal lei ainda enfrenta dificuldades de implementação. Por óbvio, sabemos que as mudanças e transformações não se dão nem darão por decreto, mas a existência de um texto legal torna-se uma ferramenta de luta e defesa da construção da igualdade e dignidade irrestritas.

(Um) Problema é como recontar nossa história e desconstruir as versões cristalizadas pelo oficialismo e triunfalismo?

Falta formação continuada para boa parte das redes de ensino; falta qualificação para atualizar e recuperar esse debate e faltam recursos e materiais didáticos com uma abordagem crítica e renovadora para este tema.
Algumas iniciativas interessantes existem, como por exemplo, o Portal de Formação em História e Cultura Afro-brasileira e Africana , mas ainda há muito o que se fazer para contarmos a verdadeira história para a sociedade.
A verdadeira História, aliás, é uma utopia necessária. Ela sempre é contada a partir de um ponto de vista, o que a relativiza muito. No entanto, sem a pretensão de apontar verdades universais permanentes, quero citar um exemplo do ocultamento da História Africana que é gritante de tanto contraste.

Geralmente só ouvimos falar de Mali em relação ao empobrecido país sem acesso ao mar, no noroeste do continente africano. Nunca, ou quase nunca, se ouve falar ou se estuda na escola o Império do Mali

Só para deixar alguns exemplos do absurdo ocultamento; enquanto a Europa mergulhava em crises de produção, convulsão social e epidemias, Mali ocupava um território considerável, banhado pelo oceano Atlântico e se estendendo ao interior do continente - passando pela área onde fica hoje o país de mesmo nome; gozando de prosperidade econômica e relativa estabilidade política por longos períodos.

Além disso, tinham as maiores jazidas de ouro conhecidas entre os séculos XII a XV (período do seu declínio "coincidentemente" ao passo que começava a se relacionar política e comercialmente com europeus, em particular os portugueses que viviam o seu Périplo Africano, a partir de 1415). Povo de grandes ourives e de artistas expressivos - os griots - que eram uma mistura de contadores de histórias, músicos e menestréis. Ao tempo em a Europa definhava com a Peste Negra, o Império do Mali já tinha universidade (elitizada diga-se de passagem, mas um avanço naquele contexto e época) e contava com um processo de participação política de dar inveja na limitada democracia das ágoras atenienses.

Mas ninguém fala deles! E via de regra, a formação escolar e acadêmica ainda está centrada numa visão eurocêntrica excludente da diversidade!


"Os reinos africanos, (...), eram admirados tanto entre os islâmicos como entre os cristãos europeus. Suas riquezas eram transformadas em conquistas sociais e artísticas para seus povos." Leia mais aqui .

Outra indicação para iniciar uma leitura sobre a questão pode ser vista AQUI.



terça-feira, 27 de setembro de 2011

Cardápio pós-Greve

Como já foi preconizado e aprovado em assembleia da ASSUFSM, existe sim vida após a Greve.
Prova disso é que me deparei com a necessidade de jantar logo após chegar de uma rápida e bem dividida caminhada.

Coisa que há muito tempo não fazia: preparar um jantar comigo mesmo para mim!

Para a trilha sonora deste encontro escolhi logo o melhor: silêncio absoluto! 
Após quase uma hora entre os preparativos acabei optando por ouvir um pouco de soul music e blues, de entrada, e terminei ouvindo The Smiths de acompanhamento, só para amenizar a segunda-feira.

Macarrão Exumé
(começa com a exumação dos armários e geladeira: tudo o que for encontrado pode entrar na receita) - Inspiração livre!
*Imagem meramente ilustrativa, apesar de muito parecida!!!
Ingredientes:
Macarrão caseiro
Manteiga
Orégano
Pimenta em pó
Louro
Molho pronto
Biscoito de Gergelim
Sal
(acho q foi isso...)
Modo de preparar:
- Aqueça água numa panela. Caso precise de alguma referência, a embalagem do macarrão geralmente traz alguma (no caso era 1 litro de água para cada 100gr de macarrão. Eu achei um exagero tanta água e logicamente desconsiderei uma barbaridade dessas!).
- Na água coloque algumas folhas de louro e um pouco de sal. Note que o segredo é justamente a imprecisão das quantias.
- Enquanto a água ferve, numa frigideira coloque a pimenta, o orégano, um pouco de massa crua e se nesse tempo encontrou mais alguma coisa que não estava na lista pode incluir também. 
- Pegue um biscoito de gergelim e use como colher para colocar margarina na frigideira. Cerca de duas a trÊs colheres-bolacha serão suficientes.
- IMPORTANTE: cada bolacha deve ser comida imediatamente após servir a frigideira de margarina. Caso algum fragmento de biscoito cair dentro da mistura, deixe fritar também; nem te preocupa!
- Enquanto a massa vai fritando e pegando aquele gostão forte de tudo que tem dentro da frigideira, a água já tá quase fervendo, né? Confere aí...
- Agora despeja a massa "frita" ou do jeito que estiver na água e vá incluindo toda a massa que irá fazer. E mexa um pouco.
- Enquanto a massa vai ficando pronta, prepare o Molho (que já veio pronto!) com mais alguma mistura (pode ser mais margarina com orégano como eu usei).
- Escorra a massa e misture-a ao molho.

- Sirva e beba uma Xingu para acompanhar.

Lições pós-preparo
Nunca siga todas as instruções de preparo.
Use escorredor de massa de verdade. Métodos alternativos sempre deixam massa na pia.
Resista à tentação de deixar a massa apenas com os temperos e a margarina. O molho vermelho realmente faz diferença e melhora a massa.
Quem precisa de tomates e cebola?

Dormir 3 horas no sofá não é a melhor sobremesa. Definitivamente!

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Sabe aquela velha frase do Churchill sobre a política e as salsichas? Também vale para o preparo da minha massa.
Mas também vale o que disse o Nicolau - o Maquiavel, não o petit : "Os fins justificam os meios"!




Tava bem boa a massa, @aliceneocatto!


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Civismo a la carte


Li a postagem do blog Nova Esquerda sobre as manifestações cívico-cômicas no 7 de setembro. 

Certamente há espaço para um interessante debate a partir do que foi exposto pelo articulista e muito ainda há o que dizer e fazer. Em especial, penso que é necessário ter cuidado com as generalizações (por mais óbvio e redundante que seja dizer isso) e com o maniqueísmo que insistem em nos enfiar goela-a-dentro. Sem "puritanismos", é preciso reconhecer o esgotamento das vias tradicionais e a necessidade de se fortalecer a luta popular por fora das instituições e partidos. Pelo menos esse é o caminho que me alenta ultimamente, que me mantém na esperança.

Discernir as motivações e os métodos de cada movimento é tarefa da militância sincera que ainda insiste em acreditar na nova mulher e no novo homem, construindo a nova sociedade.

Enquanto as redes sociais mobilizam atos "cívicos" como esse, tb divulgam e incentivam ações diretas como as recentes ocupações de reitorias por todo o Brasil, inclusive aqui em Santa Maria. As redes, enquanto ferramenta de comunicação e debate podem potencializar as lutas, mas nunca substituir a ação concreta.

Toda a reação ao oportunismo da direita precisa de uma dose alta de senso crítico para não ficar no adesismo puro e simples, desviando para o governismo cego que tanto tem contaminado lutadores e lutadoras nos últimos tempos.

No Blog, comentei o que segue abaixo. Reproduzo aqui pela demora na liberação por parte da moderação do Blog.

Lamento o golpismo rídiculo orquestrado no 7 de setembro. Lamento as manifestações “moralistas”/”moralizantes” que os veículos da imprensa monopolista tentam fazer (mas onde estavam no episódios Jaq Roriz? e aqui no RS? Pq esse discurso não retumabava no Gov Yeda?).Certamente este movimento está cheio de bem-intencionados inocentes úteis, assim como no PT (partido que centraliza um governo de pseudo-centro-esquerda).Se o PT é realmente “o único partido de esquerda (sic) com força para combater os malandros golpistas”; é ainda maior a responsabilidade e a culpa por manter os privilégios dos tais “malandros golpistas” com os quais o PT anda entrelaçado tão cordialmente. (Certamente enxergo variações importantes entre o PT, partido do qual fiz parte, e a tucanalha e seus derivados, mas, no geral, o que vejo foi uma opção (traição?) de classe).Sem partidos! Reinventar a sociedade! Movimento Popular na rua! Para subverter e reverter!


EM TEMPO: incluo mais uma manifestação sobre os movimentos do dia 7. Vem do SUL21.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

"Eu insisto em caminhar!"

Caí de gaiato numa entrevista para o Jornal do Almoço aqui de Santa Maria. 

Como de costume nestas situações de luto coletivo, a imprensa tradicional - o PIG - tende a criar e amplificar um clima de tensão e medo imobilizadores, que não permitem - nem querem - o aprofundamento das discussões sobre violência/segurança pública.

Não se questiona as motivações da delinquência; não se buscam alternativas nem propostas. Apenas reverberam a linha editorial de espalhar o medo!

E o pior de tudo não é o que acontece nas entrevistas de rua. O pior ocorre nas ilhas de edição de cada emissora e/ou retransmissora. Dos vários depoimentos colhidos na noite de segunda-feira pelo centro de Santa Maria todos apontavam para os "perigos" de se estar na rua" (sic); o temor que é "enfrentar as ruas"; alguns chegavam a apontar um certo "toque de recolher" sugerindo horários e locais nos quais as "pessoas de bem" ainda podem estar na rua com "menos risco".

Note-se que a cidade ainda guardava um sentimento de choque pelo trágico assassinato ocorrido um dia antes, no amanhecer do domingo, e também sensibilizada pelo Ato de Solidariedade realizado na segunda-feira pela manhã. Além disso, as perguntas da repórter não foram mostradas na matéria veiculada no dia 16/08 (terça-feira). 

Vejamos então como foi a conversa (quase na íntegra), dentro do que a memória permitiu guardar desde algumas horas atrás.

1ª cena: Vou atravessando a Praça Saldanha Marinho em direção ao Calçadão, de mãos com minha filha Poliana (4 anos), por volta das 20h30min. Noite já fechada, com o frio peculiar do mês de agosto. Avisto o câmera e a repórter fazedo algumas tomadas externas e, por isso mesmo, vamos dobrando para a esquerda para desviar dali.

2ª cena: A repórter e o câmera apressam o passo em nossa direção. Microfone em punho. Ar de preocupação e espanto, ela dispara: 
"O sr. acha que é seguro caminhar com uma criança a essa hora num lugar como esse?"
Ao que, apesar de me sentir quase que confessando um crime, respondi: "Sim. Acho!"

3ª cena: Não satisfeita com o certo ar lacônico do abordado, a repórter insiste na conversa (eu vou acabar cedendo algo útil para a edição!).
"Mas você acha que é possível andar pelo Calçadão?"
Sem pestanejar diante do óbvio:
"Sim. É possível sim."
 Isso não bastava para a proposta ediTAtorial da empresa.
"Mas tu passa por aqui com frequência? Não sente um pouco de medo?"
"Não. Não sinto medo. Moro aqui perto. Este é meu caminho (minha cruzada) já passei aqui  diversas vezes. Em diferentes horários: noite, madrugada, manhã cedo, tarde..."
Ainda faltava algo. Então, em tom apocalíptico, a repórter lança a informação (já sabida):
"Mesmo após a morte de um estudante aqui mesmo no Calçadão, ainda assim tu achas que a cidade é segura?"

Então, desatei:
"Sim. Apesar de lamentar a tragédia que aconteceu com o rapaz na manhã de ontem e várias outras tragédias das quais somos testemunhas e vítimas todos os dias, é preciso reconhecer a cidade como uma espaço de convívio coletivo, de espaço comunitário. A própria imprensa e a mídia amplificam um clima de temor e de insegurança na sociedade que, muitas vezes é exagerado, desnecessário. Esquecem de fazer a cobrança adequada e a responsabilização do Poder Público quanto à segurança ou, quando fazem, esquecem que segurança é muito mais que policiamento na rua (desde ontem o Centro está mais policiado), mas é preciso a garantia de várias políticas públicas e direitos (...). Este 'terrorismo' da mídia afasta as pessoas da rua, dos espaços de encontro. Eu ainda acredito na rua como local de convivência e de partilha coletivas. Por isso, eu ainda insisto em caminhar!"
E foi por aí a conversa. Acredito que desapontei a "linha" da matéria, até pq, apenas foi incluída a parte em que falo que passo pelo local com certa frequência; mas isso num tom de "Vejam! As pessoas não tem escolha! 'Precisam' passar por ali!"

Apesar disso, foi um exemplar caso de entendimento sobre o perfil dos veículos de comunicação das grandes redes.

No dia seguinte, chegou até mim um belo texto sobre a situação da violência/segurança em Lima, no Peru. Pelo caso e pela abordagem, poderia ser em qualquer lugar. Recomento a leitura no ADITAL.

Por enquanto, sigo aqui, com aquela velha predileção em sentir  os gramados (cada vez mais raros), as ruas e as calçadas da cidade batucando na sola dos meus pés. Eu insisto em caminhar!

Afinal, a praça é do povo como o céu é do condor! Não é mesmo?

*As fotos são do  álbum de Fabiano Dallmayer, no Facebook. Registro da manifestação do dia 15/08/2011.



sábado, 13 de agosto de 2011

Filosofia de Andejo




"Nesta jornada terrena, aprende muito quem anda. 
Sempre que a alma se agranda; a estrada fica pequena."   
L. Marenco

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A luta continua


Um pouco antes de ver este vídeo pensava nisso tb...

"A luta continua" não pode ser uma frase vazia;
reduzida a um jargão qualquer,
repetido à exaustão.

Dizer que a luta continua,
olhos nos olhos;
ombro a ombro;
é o reconhecimento aos que lutaram e lutam.

É a compreensão de que,
se algo já foi feito,
ainda há muito a fazer.

É a assunção
da nossa responsabilidade com o passado.
É a expressão
de nosso compromisso com o (um) futuro
(em construção) !

É por isso que a luta continua!

sábado, 23 de julho de 2011

...desejo de mundo!

"Eu tinha passado a vida toda dizendo adeus. Merda! Toda a vida dizendo adeus! Que acontecia comigo? Depois de tanta despedida, o que eu tinha deixado? E em mim, o que havia ficado? Eu tinha trinta anos, mas entre a memória e a vontade de continuar se amontoavam muita dor e muito medo. Eu tinha sido muitas pessoas. De quantas carteiras de identidade era dono?

Outra vez havia estado a ponto de naufragar. Tinha escapado de morrer uma morte não escolhida e longe de minha gente, e essa alegria era mais intensa que qualquer pânico ou ferida. Não teria sido justo morrer. Não tinha chegado ao porto esse barquinho? Mas e se não houvesse nenhum porto para esse barco? Vai ver navegava pelo puro prazer de andar ou por causa da loucura de perseguir aquele mar ou céu luminoso que tinha perdido ou inventado.

Agora, morrer teria sido um erro. Eu queria dar tudo antes que a morte chegasse, ficar vazio, para que a filha-da-puta não encontrasse nada para levar. Tanto suco ainda tinha! Sim, era isso o que tinha ficado em mim ao fim de tanto adeus: muito suco e vontade de navegar e desejo de mundo." 

Eduardo Galeano (Dias e Noites de Amor e de Guerra)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Na luta coerente pela educação (mas não QQER educação!)


Depois de catapultada à condição de celebridade nacional  e arrancar aplausos ao movimento grevista de várias redes de ensino no "Domingão do Faustão", a professora Amanda Gurgel continua repercutindo, com coerência, a luta em defesa da educação  pública, pela valorização d@s trabalhador@s em educação pelo comprometimento de 10% do PIB com financiamento da educação brasileira.


Abaixo reproduzo: 

Carta da professora Amanda Gurgel ao júri do 19º Prêmio PNBE

Natal, 02 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.Embora exista desde 1994, esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria.

Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. 

Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecom e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.Por essa razão, não posso aceitar esse prêmio. 

Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação. 

Saudações,Professora Amanda Gurgel

PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

Quer saber sobre o tal PNBE?  Acesse o site http://www.pnbe.org.br/ (inclusive a Carta é comentada e, de certa forma, rebatida. lá!)


quarta-feira, 1 de junho de 2011

TAPAJóS...



Para acompanhar até onde vai essa história...


SENADO APROVA PLEBISCITO

BRASIL PODE TER MAIS DE 40 ESTADOS

MOVIMENTO TAPAJÓS (desde 2004)
http://www.estadotapajos.com.br/?exibe=quemsomos


Acabei lembrando o que alertava Orlando Villas-Boas sobre a fragmentação e disputa dos territórios no NORTE do Brasil.

Abraços!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Tartarugas, hoax, Costa Rica, MST e outras confusões "bem" intencionais


Semana passada recebi aquele velho e-mail (ano passado já havia circulado) sobre o MST e o massacre de tartarugas. Uma velha e mal contada história; numa mescla de senso comum, ingenuidade e muita "esperteza".

Quando recebi,ia responder imediatamente, mas acabou que não deu tempo.

Pensei que ESTA mentira já tivesse sido devidamente desvendada. Mas como era mês de abril, aliás ABRIL VERMELHO, a dura lembrança do Massacre de Eldorado dos Carajás, resgatada mais uma vez na ação concreta contra o latifúndio faz com que a reação raivosa e descontrolada se utilizasse desses expedientes... a mentira, a farsa, a difamação.

Não sejamos inocentes úteis nesse jogo de interesses que o agrobussiness e os manipuladores de opinião qerem fazer conosco.

Abaixo a origem e a verdade do "massacre" das tartarugas e do papel do MST nisso tudo. Por favor leiam os links.

-->  o fato ocorre na Costa Rica (e não no Solimões) 
TRECHO da matéria, entre duas fotos: "Não bastasse o absurdo de se confundir o paraíso dos surfistas (acima) com as plácidas águas do Solimões (abaixo), agora essa de implicar logo com o MST. O que uma coisa tem a ver com a outra? Pior, sem que qualquer prova factual ou imagem real tenha sido apresentada."

--> O próprio grupo TAMAR (defesa das tartarugas marinhas) esclareceu a farsa. Clica no Link abaixo

--> E mesmo após o esclarecimento da "confusão" (sem intenção?) do dep Jungmman (PPS), ainda restaram enganos e mentiras pela internet:
"Massacre de tartarugas! Roubo de ovos! Vergonha na Costa Rica! Assalto nas praias! Tartaruguinhas viram sopa! – são exemplos de títulos das mensagens eletrônicas trocadas por impulso, acriticamente."

É sempre bom ter outra versão antes de ter aversão a algo!

ABRAÇOS

PENA - O Teatro Mágico

domingo, 1 de maio de 2011

Maio, nosso maio!

Para celebrar e refletir o 1º de MAIO


Maio, Nosso Maio from farid on Vimeo.

EM TEMPO: Conheça mais sobre os produtores da animação no ESTÚDIO GUNGA  . 


O estúdio é engajado com um processo cultural e tecnológico livres. Utiliza software livre e libera os arquivos fontes de suas produções.

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O vídeo foi lançado na sexta-feira, dia 29/04.

No portal Vimeo, foi dado o added to CREATIVE COMMONS entre a meia noite e a 1h já da segunda-feira, dia 02/05).

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Boa Vida !

"Perceba: a liberdade não garante vida boa! Mas a liberdade é condição necessária porque a vida não tem nenhuma chance de valer a pena se ela for regida pela coação, pela repressão; se ela for determinada pelo medo."

"Onde há medo, a vida não pode valer a pena. Quando você é 'ajudado' pelas instâncias repressivas da civilização, pra definir a vida que vai viver, evidentemente que essa não pode ser a vida boa. Por que a vida boa é aquela em que você, com você mesmo , pondera que vida vai viver."

"Cada vez que somos conduzidos a viver, por uma força repressiva, efetiva ou suposta, claro está, que a vida tem menos chance de ser legal!"


E afinal de contas, quem sabe qual é a vida q vale a pena ser vivida? http://migre.me/3N90a #eudaimonia (eu quero)

domingo, 23 de janeiro de 2011

DOMINGO (7)

...
You take advantage of what's mine
You're taking up my time
Don't have the courage inside me
To tell you please just let me be

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sábado (6)


...
You know weve done so many things together
But it seems that I'm gonna move on now
You know that im gonna keep on livin
But it wont be the same without you girl
It aint easy, you know its hard, so hard

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sexta-feira (5)

...
The drugs they give you
are something I don't trust
At least when side effects come fast
Just like in the past



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Quinta-feira (4)

...
Se você sentir saudade
por favor não dê na vista
Bate palma com vontade, 
faz de conta que é turista

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quarta-feira (3)

...
"Continuerò senza di te
Senza esser più tradita
Da promesse di "mentira"
E mi alzerò senza te,
Io non voglio più un fallito
Ogni mattina accanto a me
Mi rialzerò!"

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Segunda-feira (1)

 
...
Eu não vou pro inferno
Eu não iria tão longe por você
Mas vai ser impossível não lembrar
Vou estar em tudo em que você vê

sábado, 15 de janeiro de 2011

Havia uma reta oposta entre nós. 
Uma diagonal dilacerante nos afastava. 
Olhares cruzavam o velho salão e tentavam encurtar distâncias. 
Idiomas diferentes mas a esperança de entenderem-se facilmente sobre essas coisas da língua.
 E da pele. 
Afinal, o mundo tem tantas e maiores dificuldades. 
Uma noite inteira ainda no separava do próximo amanhecer. 
Outros caminhos; outras estradas.
Alguns segredos.
Mas uma noite em comum. 
Uma noite incomum.
Ainda havia um salão entre nós, mas a essa altura já confessamos, em silêncio, que apenas isso nos separava.

(dos Contos em Noites Estrangeiras - sem data para publicação)



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Comuna resiste na França!

De Carta Capital

‘Aldeia gaulesa’ do comunismo na França completa 80 anos de governos do PCF

Por Erica Campelo, no Opera Mundi


Estamos no ano 2010 depois de Cristo. Toda a França foi tomada por governos não comunistas. Toda? Não! Um município governado por irredutíveis comunistas ainda resiste.

Há 80 anos, a comuna de Ivry-sur-Seine, apenas cinco quilômetros ao norte de Paris e parte da região metropolitana da capital francesa, resiste ao enfraquecimento do comunismo como força política na Europa e ao encolhimento do próprio PCF (Partido Comunista Francês) – ao qual são filiados os prefeitos da cidade desde os anos 1920.

Naquela época, quando os efeitos da Primeira Guerra Mundial ainda eram sentidos, mais de 20 municípios da periferia parisiense aderiram ao comunismo. Formando um entorno sobre a capital da França, essas cidades seriam historicamente conhecidas como “cinturão vermelho” ou “periferia vermelha”. E Ivry, particularmente, é hoje uma das gestões comunistas mais antigas e duradouras do mundo.

Alguns dos elementos para compreender essa longa trajetória comunista se encontram já nas primeiras gestões munícipais. Os fenômenos de transformação urbana e as metamorfoses das comunas que cresciam ao redor de Paris eram uma questão fundamental e exigiam uma resposta administrativa nova na vida política francesa. Para o historiador Emmanuel Bellanger, pesquisador do Centro de História Social do Século XX, ligado à Sorbonne, o fenômeno “contribuiu para radicalizar a expressão política francesa e, em particular, reforçar uma nova radicalidade na periferia de Paris”.

Em 1925, o relojoeiro George Marrane, membro do PCF, assumiu pela primeira vez a prefeitura de Ivry. Na época, ele já era membro da central sindical CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) e fazia parte do conselho de administração do jornal comunista L’Humanité. Foi prefeito da cidade desde então até 1965, menos no período de 1939 a 1945 – quando, em função da ocupação alemã na França, o Partido foi proibido no país. Antes de ser prefeito, Marrane já tinha combatido na Primeira Guerra quando assumiu e foi da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra.

Segundo Michèle Rault, chefe do serviço de documentação da prefeitura de Ivry, “Marrane deu prioridade aos principais temas da periferia e, em particular, à questão da habitação, que é importante até hoje”. Um bom exemplo dessa intervenção foi a criação do primeiro conjunto de moradias com aluguel moderado (HLM, na sigla em francês), em 1927, política que se tornou símbolo maior da administração comunista.

Crescimento
Na França, a atividade municipal se intensificou durante as duas guerras, os anos de ocupação nazista e desenvolveu toda sua potencialidade nos chamados “30 anos gloriosos” (1945-1974), período de grande crescimento econômico para a França. Com a libertação e o prestígio adquirido na Resistência, o PCF tornou-se uma grande força por muitas décadas. Como explica Rault, “as atividades para a infância, como as colônias de férias, as atividades esportivas, a educação e o conjunto dos serviços públicos constituem o centro das políticas desenvolvidas em Ivry, no pós-guerra”.

Outro fator que explica a continuidade dos mandatos comunistas em Ivry é a boa transição entre as gerações de políticos. Durante todo esse período, a cidade contou com apenas três prefeitos. Após Marrane, foi a vez do torneiro-mecânico Jacques Laloë assumir, em 1965. Ele participara da gestão de Marrane como o mais jovem político da França. Laloë exerceu suas funções por seis mandatos, até 1998, quando passou o cargo para Pierre Gosnat, o atual prefeito.
“Gosnat é filho de antigos militantes comunistas, neto de comunistas que foram eleitos em Ivry. Seu pai foi deputado, seu avô era um prefeito-adjunto já na primeira gestão comunista. A gente tem em Ivry uma coesão muito forte, mais forte que em outros municípios comunistas”, enfatiza Bellanger.

Desindustrialização
No entanto, as mudanças estruturais do país, começando ainda nos anos 1960 e se amplificando nas décadas de 1970 e 1980, foram parte da causa do enfraquecimento do partido.
“Um drama enfrentado pelas cidades foi o processo de desindustrialização. Assistimos a uma terceirização da economia e à passagem industrial para uma economia de serviços. Isso tem efeitos importantes, contribui para a pauperização de classes populares que não são formadas para se adaptar ao emprego terceirizado. Houve uma explosão do desemprego em cidades da periferia vermelha”, completa o pesquisador.
Em 1954, a cidade de Ivry – de perfil industrial desde o início do século XIX – tinha 54% de trabalhadores na indústria. Hoje, o setor acolhe apenas 19% da população economicamente ativa. Mesmo assim, Ivry ainda é um importante núcleo industrial da região metropolitana de Paris.

Invasão burguesa
Outro problemas que a gestão comunista em Ivry tem de enfrentar também é o fenômeno de “aburguesamento” (também chamado de “gentrificação”) da região. Michèle Rault destaca “a importância de novos segmentos sociais que se formam com a instalação de pessoas com um poder aquisitivo maior. Essas pessoas não têm a mesma relação com o Partido Comunista”.

Uma parte significativa dessa nova população é composta por parisienses que se deslocam para a periferia próxima da cidade em função da explosão imobiliária da capital.

O problema da moradia e sua importância na configuração social continua sendo uma agenda importante para a adminstração comunista. No plano político, segundo o historiador Boullager, “Ivry tem ainda hoje um importante setor popular” e, embora o PCF não tenha mais o monopólio do poder na periferia, o comunismo pode resistir, “nas cidades onde ele faz alianças com forças de esquerda. Eu penso que a unidade de diferentes famílias da esquerda vai ser reforçada pela vontade de barrar Sarkozy nas próximas eleições presidenciais. Essas alianças podem ajudar a reforçar também o comunismo nos municípios

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Começando o Pós-Lula

Primeiros dias do Governo Dilma; várias expectativas a partir da retrospectiva do Governo Lula. Nestes dias de muitos balanços e muitas avaliações, destaquei uma do Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo (29/12) , com erros, acertos e os saldos (altamente positivos!) de Lula e seus governos.

Chegando ao blog do @juremirm - como de costume - me deparo com outras boas análises que reparto por aqui:

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Aula de economia no Esfera Pública

Taline Oppitz e eu recebemos todo dia, no programa Esfera Pública, das 13 às 14 horas, na Rádio Guaíba, alguma fera da cultura, da economia ou, principalmente, da política.
Nesta quinta-feira, apagar das luzes do ano de 2010, recebemos o professor de economia da PUCRS, Leandro Lemos. Meu colega. Ele deu um banho. Esmagou cada argumento dos que rejeitam categoricamente o governo Lula. Fustigou o antipetismo gaúcho que põe o Rio Grande do Sul na contramão da história.
Alguns dados:
Nos últimos quatro anos, o PIB brasileiro dobrou de 1 para 2 trilhões.
Foi o único país no mundo a dobrar seu PIB.
Deve dobrar de novo nos próximos quatro anos.
Os brasileiros estão entre os que trabalham o maior número de horas semanais no mundo.
No começo da era Lula, o salário mínimo comprava meia cesta básica.
Hoje, compra duas e meia.
A média de crescimento econõmico anual do governo FHC foi de 3,2%. A do governo Lula foi de 4,6%.
Pela primeira vez, em décadas, o Brasil cresceu distribuindo renda.
Querem mais?
Pela primeira vez a classe A aparece em quarto lugar no ranking global brasileiro do consumo.
Em primeiro lugar, classe C, em segundo, classe D, em terceiro, classe B.
Corremos risco de uma bolha?
Só tem bolhinha por enquanto.
Fizemos tudo?
Claro que não.
Faltam as reformas estruturais: tributária, política, eleitoral, da previdência.
Falta melhorar muito em educação e saúde.
Mas o ProUni é um fato.
E os alunos do ProUni aparecem entre os laureados ao final da faculdade.
Os bancos ganharam muito?
Sim, mas nem todo banqueiro é larápio.
Só que os bancos faturam quase tudo com juros.
Nossa dívida interna é pavorosa?
Sim. Mas nossos papéis são os mais procurados do mundo.
Claro, nossos juros são altíssimos.
Mas nossa dívida interna é de médio e longo prazo.
Estamos com a faca e o queijo na mão.
Apenas 8% do que ganham é com serviços.
Captam dinheiro pela taxa Selic e repassam a juros de 180%.
É assalto à mão armada.
Conclusão: nada de "lulaísmo", mas tampouco de antipetismo.
Afinal, 40 milhões de brasileiros viraram consumidores.
Um país de excluídos ganhou um naco de inclusão.
Eis a explicação dos 87% de aprovação de Lula.
E a corrupção?
É endogéna.
Existe no mundo inteiro.
Não foi maior no Brasil do Lula.
Foi a de sempre.
Cabe enfrentá-la.
E apostar mais em bons técnicos na saúde, na educação e na tecnologia.
Não estamos no melhor dos mundos.
Mas nosso mundinho está um pouco melhor. Postado por Juremir Machado da Silva - 30/12/2010 15:18