sábado, 7 de março de 2009

Marx, Engels e Lula contra a crise do capitalismo...

Na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico Lula falou de maneira a orgulhar todos os brasileiros.

Lula cobrou dos empresários e da burguesia industrial onde está o dinheiro que circulava antes da presente crise??? Chegou a nomear, perguntando: "Gerdau, onde está o dinheiro que você tinha antes da crise??"

Aqui um trecho do discurso (trecho dos mais insossos é verdade, as partes "quentes" não achei na net ainda! --> http://tvig.ig.com.br/48194/lula-no-conselho.htm

Lula fez referências até ao Manifesto Comunista de 1848, inspiração para medidas de controle da crise segundo nosso presidente.Pena que repercutiram mais na imprensa de fora do que aqui no Brasil. Veja mais no Página 12 da Argentina.

Como provocação para a leitura do Manifesto, deixo aqui uma "resenha" feita um tempo atrás para um trabalho em que atuei como formador sindical, junto com o CPERS e a CUT:

Manifesto do Partido Comunista (Marx e Engels )

Alcir Martins

"Fruto de décadas de colaboração entre Marx e Engels, o marxismo influenciou os mais diversos setores da atividade humana ao longo do séc. XX. O Manifesto do Partido Comunista, obra redigida por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1847, é o texto fundador do marxismo. Afirma que o motor da história é a luta de classes e expõe o programa político dos comunistas após a tomada do poder. O texto observa que o poder só pode ser atingido pela derrubada do Estado burguês e pela união dos proletários de todos os países."

O Manifesto foi elaborado no final de 1847, durante o II Congresso da Liga dos Comunistas, em Londres e publicado, pela primeira vez em 1848. De lá para cá, foi traduzido para praticamente todos os idiomas modernos, ganhando grande repercussão nos lugares aonde chegou.
O ano de sua publicação foi particularmente importante para as lutas do proletariado europeu pois neste ano irrompeu-se a luta de classes na França e a organização da classe trabalhadora italiana e alemã que, aliadas as burguesias locais consolidaram seus respectivos Estados Nacionais.
Marx e Engels, apesar de ainda jovens em 1848, (30 e 28 anos respectivamente), já eram conhecidos entre os campos revolucionários da esquerda européia. Já haviam produzido importantes textos teóricos - apesar de que suas principais obras ainda estariam por vir - e já haviam garantido lugares destacados na produção acadêmica e filosófica e na luta política dos trabalhadores.
Na Europa da metade do séc. XIX, a crescente utilização das máquinas diminuía cada vez mais a necessidade de força de trabalho, gerando desemprego e rebaixando as condições de vida dos trabalhadores empregados. É importante lembrar que estamos falando de uma época onde não existiam férias, limite para a jornada de trabalho diária, o trabalho extenuante era aplicado a crianças de qualquer idade, não havia intervalos para descanso ou refeições, os patrões podiam impor castigos físicos aos trabalhadores...
Esta situação traz dentro de si uma contradição: a existência dos donos das máquinas (patrões) e daqueles que só possuem o seu corpo (empregados). A relação que se dá entre estas duas classes sociais opostas é apenas uma: exploração.
A classe Burguesa (proprietária) COMPRA o trabalho daqueles que só possuem a sua força. Neste caso, os trabalhadores, que são muitos, são tratados como mercadorias que valem de acordo com a Lei da Oferta e Procura. RESUMINDO: a burguesia, que possui a propriedade dos meios-de-produção (terras, máquinas, indústrias, etc) dispõe da possibilidade de fazer crescer a sua riqueza material através do desgaste e da exploração constante da força de trabalho (energia, vida...) dos proletários (trabalhadores assalariados).
Nisto encontramos duas idéias chaves - talvez as mais importantes - do Manifesto:
A) As relações de exploração e dominação de uma classe sobre a outra são o motor da História [1]. Segundo o marxismo, a História só se move devido à luta de classes, quer dizer, sempre existiu uma classe explorada e uma exploradora, uma dominada e uma dominante, uma oprimida e uma opressora. Foi assim com senhores e escravos, com barões e servos, com mestres e aprendizes, com burgueses e proletários. E são as disputas entre uma classe e outra que fazem a História andar.
B) Já que a dominação burguesa é baseada na propriedade, a revolução proletário-comunista terá que abolir a propriedade privada burguesa. Como hoje em dia, falar em acabar com a propriedade privada no século XIX causava arrepios nos burgueses e na sociedade em geral. "E agora? Nada mais vai ser meu? E a minha casa? Minhas roupas?"Vejamos o que o próprio Manifesto nos diz, em seu segundo
capítulo:"Nós, comunistas, temos sido acusados de querer abolir a propriedade adquirida pessoalmente, fruto do trabalho do indivíduo, propriedade que dizem ser o fundamento de toda a liberdade, de toda atividade e de toda independência pessoais. Propriedade adquirida, fruto do próprio trabalho e do mérito pessoal! Falais da propriedade do pequeno burguês, do pequeno camponês, que antecedeu a propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la: o desenvolvimento da indústria já a aboliu e continua a aboli-la diariamente. (...) O capital [2] é um produto coletivo e só pode ser colocado em movimento pela atividade comum de muitos membros da sociedade e mesmo, em última instância, pela atividade comum de todos os membros da sociedade. O capital, portanto, não é uma potência pessoal; é uma potência social. (...) Queremos apenas abolir o caráter miserável dessa apropriação, que fez com que o operário viva unicamente para aumentar o capital e só viva na medida em que o exige o interesse da classe dominante. (...) O comunismo não priva ninguém do poder de se apropriar dos produtos sociais; o que faz é eliminar o poder de subjugar o trabalho alheio por meio dessa apropriação."
Além disso, de romper com a propriedade burguesa, a tomada de poder pelo proletariado transformaria também as relações sociais e familiares, mudaria a educação e os serviços públicos e planificaria toda a produção a partir do Estado. Os autores têm a clareza de perceber que esta intervenção dificilmente acontecerá de forma pacífica, isto é, "a princípio, somente intervenções despóticas conseguiriam atingir o direito de propriedade burguês e as relações burguesas de produção".
Portanto é necessária a elevação do nível de consciência de classe do proletariado para que a tomada do poder seja possível. Após essa tomada do poder, no sentido de suprimir o antagonismo (disputa) de classe, algumas ações seriam tomadas, como por exemplo:
- Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda da terra nas despesas do Estado.
- Imposto fortemente progressivo.
- Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo.
- Centralização dos meios de transporte nas mãos do Estado.
- Unificação dos serviços industrial e agrícola.
- Educação pública e gratuita a todas as crianças.
- Eliminação do trabalho infantil na sua forma atual.
- Combinação da educação com produção material.
Para alcançar este objetivo, os comunistas almejavam construir uma ampla aliança entre os partidos democráticos[3] da Europa, pois era apenas no Velho Mundo que as condições materiais possibilitariam a subversão da sociedade burguesa, pois a maximização das capacidades produtivas é que seria redirecionada com a tomada de poder.
Os próprios autores, em edições posteriores chegaram a sugerir algumas mudanças no texto do Manifesto devido a algumas mudanças nas relações de trabalho, nas tecnologias e nas relações institucionais de poder da época. Hoje em dia vemos que muitas das categorias utilizadas na época foram transformadas e novas formas de trabalho também surgiram, porém, percebemos a atualidade da proposta de 1848, ainda hoje, quando vemos a escalada da tecnologia gerar exclusão e desemprego ao invés de pão; quando vemos a concentração de terras, riqueza, poder e capital nas mãos de poucos grupos ou famílias e quando percebemos a internacionalização das lutas contra esses males. Afinal de contas o mote principal da obra de Marx e Engels é a construção de uma sociedade mais justa e solidária, onde a riqueza e a cultura possam ser desfrutadas como bem universal por todos e todas sem exceção. Essa luta é tão atual hoje quanto há um século e meio atrás!

NOTAS
[1] Importante lembrar que não se fala aqui da História humana anterior à invenção da escrita. Este período era praticamente desconhecido até 1847, quando o Manifesto foi escrito.
[2] Capital é, então, toda riqueza capaz de proporcionar renda, ou seja, capaz de gerar mais riqueza. Por exemplo: uma fábrica de sapatos que vale U$ 5mil, em dois meses produz sapatos equivalentes ao valor de U$ 5mil, mas continuará gerando lucro enquanto material e trabalhadores fizerem ela se movimentar. Todo este lucro estará concentrado na mão do proprietário da fábrica (capital) que pagará aos trabalhadores o mínimo possível para garantir seu lucro.
[3] Neste momento, partidos Democráticos representavam ideais e lutas de vanguarda.

Nenhum comentário: