sábado, 10 de dezembro de 2011

Should I stay or should I go ?*

Sábado. Dez de dezembro. 5h45min. Entrei no táxi que me levaria até a rodoviária para, por fim, rumar a Restinga Sêca, tomado pela sonolência apropriada para um sábado de madrugada. No rádio tocava "Should I stay or should I go". Pensei seriamente na opção 'stay'. Mas resolvi seguir. Algo me fazia querer ir ao encontro do curso de GPP-Gênero e Raça.

Durante os 59 quilômetros que separam Santa Maria da terra de Iberê Camargo, ia eu, na minha versão de  hora perigosa do dia, refletindo e justificando para mim porque fazia aquela pequena travessia mais uma vez.

É justificável. Plenamente!

Pode ser pela possibilidade de partilhar experiências e ouvir relatos das colegas - e do colega -que sempre dão corpo às reflexões que faço solitariamente, mediado pelo MOODLE. Talvez pela pertinência das leituras e discussões propostas que, mesmo quando realizadas na 'solidão' do Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem (AVEA), ganham consequência no dia-a-dia, constroem um outro olhar, uma renovada sensibilidade; fazem pensar melhor nas relações de trabalho; ajudam a perceber melhor os porquês de um chefe ter um tom de voz diferente para tratar com homens e mulheres - e percebendo questionar; e questionando, combater. 
Talvez tenha ido pelos debates que ajudam a entender melhor o porquê de ter uma proporção reduzida de colegas negros e negras onde eu trabalho. 
Ou pelos debates que ajudam a compreender melhor um eventual atraso de uma colega que precisou medicar um filho antes de sair para o trabalho; e reconhecer as diferentes jornadas de mães, filhas, esposas, namoradas que também são estudantes e trabalhadoras - quando não são muitas ou todas estas numa única mulher!

E talvez tenha ido por que o curso tem me proporcionado mais acuidade na percepção das cores de nossa sociedade. As cores dos balcões e das frentes de lojas, as cores dos bancos universitários, as cores das filas por empregos. E com esta visão, percebi que não estamos em 'brancas nuvens' e ainda há muito o que clarear. Aliás, clarear não, né? Precisamos de novas cores. De todas as cores.

Encarei a estrada e o sono desta manhã preguiçosa - mais uma! - por querer me permitir algumas reflexões. Reflexões que, aprofundadas,sistematizadas e compartilhadas, me ajudam a ser um pai melhor, um namorado melhor (alguém responde essas?), um trabalhador e um estudante melhor - e arrisco dizer que até um "ex" melhor.

Possivelmente cheguei a Restinga Sêca hoje também por gratidão. Em agradecimento pelo projeto de mestrado aprovado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFSM, afinal a ideia e o problema de pesquisa surgiu como desdobramento em debates que vivenciei no curso. E boa parte do referencial também veio do curso.

E percebendo tudo isso; lembrando e imaginando várias situações e a dimensão do desafio que é a superação das desigualdades e preconceitos que existem na sociedade, mas também e com muita força, dentro de nós, é preciso ainda apostar e acreditar no esforço individual e coletivo para avançar nestas discussões e na implementação de políticas públicas. Esforço que terá melhores resultados quanto melhor for a educação e a formação sobre gênero, raça, etnia, sexualidade, sociedade, política.
Resultados que passam pelo compromisso e pela militância de diferentes coletivos e movimentos e pelo compromisso do Estado. Estado que, mais do que mobilizado e acionado, precisa ser transformado.

São compromissos e desafios para a construção de um Brasil negro, feminista e com justiça.
Um Brasil socialista?
Por isso, resolvi ir / vir.
On the road. In the way.

*Escrito num dos momentos do encontro em Restinga Sêca, hoje pela manhã.

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