Vez ou outra, com muita frequência, alguém "acusa" algum posicionamento de radical ou extremista. Em geral essa "acusação" esconde (ou revela) dois equívocos: o primeiro o de confundir ou misturar esses conceitos, como se fossem um só. O segundo equívoco é o tom pejorativo que atribui ao fato de alguém manifestar ou defender uma posição - independente se uma posição extremista ou radical. Afinal, supostamente há uma busca por uma neutralidade virtuosa, só alcançada, de verdade, se fosse possível abrir mão de nossa condição humana histórica.
Reproduzo texto do professor Selito Rubin (já fiz isso aqui no SUB mesmo). E reforço o seu permanente "Convite à reflexão":
RADICAL E/OU EXTREMISTA?!Selito Durigon Rubin
www.pucrs.campus2.br/selito/
No nosso dia-a-dia as pessoas falam em radical como sinônimo de extremista. Prefiro, no entanto, com base em autores reconhecidos, expor outra conceituação. Paratanto te convido a acompanhar a reflexão a seguir. Somos chamados a ser radicais; mas o mais comum é sermos extremistas.
Uma das dimensões filosóficas do ser humano no dizer de Dermeval Saviani (“A filosofia naformação do educador” in SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez e AA.AA, 1980, pp. 17-30) é ser radical; ser radical é buscar a raiz, o fundamento; isto todos sabemos, pois todos aprendemos o português, língua neolatina, em que radical, que significa raiz, é a parte inicial de muitaspalavras. Pois é, radical é raiz, é ver a realidade em sua profundidade.
Vivemos continuamente sendo extremistas, partidários, porque limitados, finitos, históricos. A radicalidade é uma dimensão da reflexão filosófica, uma instância quequalifica o ser humano; nestes momentos o homem questiona seu viver, suas açõescotidianas, que tendem a ser extremistas.
Não é nenhum problema ser extremista, mas é necessário ser consciente que também somos chamados a ser radicais. O homem consciente vive a tensão entre o extremismo e a radicalidade. Claroque podemos ser prudentes e reduzir nosso extremismo, mas nem o prudente deixa deser extremista. As propostas do “caminho do meio” são importantes, pois mostram queos extremos fazem parte da realidade e encontram-se unidos no “caminho do meio”.
É semelhante quando nos vemos na dialética, onde os opostos expressam a possibilidadede transformação. Paulo Freire expressa que o ser humano deve ser radical e nãosectário; ser sectário é só enxergar um aspecto, um lado.
Não podemos ser temerosos em ser extremistas, pois seu oposto é a passividade, isto é a ausência, a neutralidade, que também é uma posição, que não valoriza o ser humano. Podemos sim contrapô-la, temperá-la, permanentemente, com a prudência e com a radicalidade. Não tem outro jeito. A questão não é ser extremista, mas não ser consciente desta dimensão. Certamente esta visão tem a ver com averdade, que tem múltiplas dimensões, pois ela é o desvelamento da realidade. Ou por outra, a realidade é complexa e pode ser vista porr vários olhares, visões; olhares evisões que se complementam.
A busca da visão de totalidade aberta, não fechada, é uma constante do ser humano, teorizada como interdisciplinaridade (Ivani Fazenda entre outros), transdisciplinaridade (Nicolescu entre outros), complexidade (Edgar Morin entre outros) e holística (Pierre Weil entre outros).
A neutralidade em qualquer circunstância, em coisas pequenas ou em decisõesmaiores é, neste sentido, dificuldade de se assumir como ser histórico, partidário,limitado. Isto também se refere ao voto em branco ou nulo.Minha “fala” pode ser extremista, mas consciente da necessidade de constanterevisão à luz da radicalidade.
A instância da radicalidade, que é uma dimensão filosófica do ser humano é exercida quando refletimos, isto é, quando revisamos nossos pensamentos, quando cuidamos para não sermos somente extremistas. Históricos sim, parciais sim, mas também radicais.
(publicado em Letras Santiaguenses, ano XIII, nº 82, jul/ago. 2009 p.03)