quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Tempo, velocidade, blogs e golpismos diários

Tenho andado em outro ritmo ultimamente. Não o ritmo cibernético da rede, nem o ritmo descompassado da cidade; do dia a dia.
Primeiro pensei que estava andando em "slow", mas um dia de folga na primavera ajuda a organizar melhor as coisas e percebi que, no fundo, o problema é que andava (ando; andamos)eu, quase sempre, pelo ritmo dos outros... Muita coisa pra fazer, muita coisa por fazer...
Mas sempre há tempo para recuperar nosso tempo...

Aqui pelos blogs, tenho sido um leitor assíduo de diversas páginas; observador atento da história on-line, quase em tempo real, que vão sendo contadas e construídas nas diferentes redes tramadas ...

Às vezes até escrevo alguma coisa, mas deixo para terminar depois. E quando vejo, lá está mais um rascunho inconcluído na lista de postagens do blog ... Um dia reviso esse "arquivo oculto" ...
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Por ora, o Brasil comemora as Olimpíadas de 2016; a Copa em 2014...
E pouca gente comemora, mas muito louvável é a atuação do Brasil no caso de Honduras.

Além de tudo que se disse sobre o fato de Honduras - o 2º país mais pobre das Américas - poder ser tomado como "tubo de ensaio" para uma reação da direita no continente e que a defesa de Zelaya em Honduras é sim, a defesa da liberdade no Continente todo, me salta ao olhos outra pérola do cinismo midiático no trato ao presidencialismo e a reeleição.


A questão começa com Zelaya contrariando a Constituição ao permitir que o povo hondurenho decida se ele, Zelaya, poderia concorrer a novo mandato subsequente ao atual: ou seja, se permitiria a reelaição no país.

Ato contínuo, a oposição burguesa-classe média hondurenha dá o golpe (é preciso que se diga; não há governo provisório ou governo de fato; há governo GOLPISTA com Micheletti!). Os próceres da direita ecoam a mesma ladainha de "crise da democracia", "poder perpétuo", "ditaduras chavistas se espalhando" e todo aquele chororô diário...

Então começemos a pensar na tal reeleição - que no Brasil já se falou até em "treleição" (sic).


Em meados dos anos 90, FHC I, aprovou a reeleição no Brasil. Naquela época tudo estava em ordem. Não havia abalo a nenhum princípio democrático universal e nem o alicerce da alternância de poder esteve abalado. tudo estava no seu devido lugar - inclusive as altas propinas pagas para aprovar a Emenda Constitucional que criava a reeleição no Brasil. Tucanagens da vida! E veio FHC II...

Anos adiante, Chávez na Venezuela, atravéz de referendos e plebiscitos, sucessivamente ganha a possibilidade de concorrer novas eleições e acumular mandatos em sequência. A Venezuela vira palco das eleições mais vigiadas e fiscalizadas do mundo; e recebe dos observadores internacionais o título de eleições limpas, seguras e democráticas... Mas Chávez é vilanizado mundialmente ...

Com Evo, na Bolívia, deu-se espetáculo similar.


Mas quando Uribe, da Colômbia, cogitou a possibilidade de mais uma reeleição; a caixa de reessonância dos arautos da democracia não ecoou. Aliás, quando Uribe alterou a Constitutição de seu país e instituiu a possibilidade de uma reeleição, nos moldes do modelo brasileiro, e venceu a disputa em 2006 não havia nada de errado. Agora já cogitam a libera~ção para que concorra a mais um pleito, em 2011 - podendo chegar até 15 anos de governo, já que os mandatos presidenciais na Colômbia são de 5 anos. Sem problemas!

Esta breve comparação da história recente escancara o elemento ideológico que cruza nosso continente e garante a medalha de OURO para a Grande Mídia, na modalidade cinismo sem barreiras!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

23 de Setembro de 2009 - 23h00

O que disse 'o político mais popular da Terra', na Newsweek?

A mídia brasileira deu grande repercussão à reportagem da revista americana Newsweek sobre o presidente Lula, sob o título O político mais popular da Terra. O Google Notícias, na noite desta quarta-feira (23), indicava 540 conteúdos sobre o tema. Mas por que ninguém mostrou o longo duelo que foi a entrevista de Lula à Newsweek? Veja aqui a entrevista e tire suas conclusões.

A revista, que publicou a entrevista no seu site, desmancha-se em elogios ao "espetacular trabalho" do presidente do Brasil. Não faltam as referências de costume ao pobre menino nordestino que até os sete anos não sabia o que era um pão.

O título é tirado da hoje famosa tirada do presidente Barack Obama numa reunião do G20 em abril, em que o chefe da Casa Branca chamou Lula de "o cara". O "gancho" foi a presença do governante brasileiro em Nova York, onde ele abriu a Assembléia Geral da ONU.

Porém a revista, que serviu de modelo para Victor Civita criar a Veja no Brasil, não está mudando de "lado", para usar uma expressão cara a Lula. Basta ler a entrevista, a cargo do premiado jornalista Mac Margolis, correpondente da Newsweek no Rio de Janeiro, escalado para espremer "o cara" com pergu ntas espinhosas, em busca de respostas de cedência ou pelo menos de contemporização.

Lula foi inquirido sobre os méritos do mercado na crise econômica, as excelências das privatizações do governo Fernando Henrique, o "controle estatal" sobre o pré-sal, os compromissos do Brasil na cúpula climática em Copenhague e, no fim, claro, o "estridente" presidente venezuelano Hugo Chávez, acusado de inimigo da democracia ligado a gangs de vândalos.

Veja a íntegra da entrevista publicada. Julgue as perguntas. E confira como foi que Lula se saiu.

Newsweek: Quando o senhor tomou posse, o Brasil era enxergado como uma promessa não realizada, e a última das nações do Bric. Agora o Brasil é considerado uma estrela entre os mercados emergentes. O que aconteceu?

Luiz Inácio Lula da Silva: Ninguém respeita ninguém que não respeita a si mesmo. E o Brasil sempre se comportou como um país de segunda classe. N ós sempre dissemos a nós mesmos que éramos o país do futuro e o celeiro do mundo. Mas nós nunca transformamos essas qualidades em algo concreto. Em um mundo globalizado você não pode ficar parado. Tem que pegar a estrada e vender o seu país.

Então nós decidimos fazer do fortalecimento do Mercosul (o bloco comercial sul-americano) uma prioridade, e aprofundamos nossas relações com a América Latina em geral. Priorizamos o comércio com a África e entramos agressivamente no Oriente Médio. Hoje nossa balança comercial é altamente diversificada.

Isso nos ajudou a amortecer o impacto da crise econômica. Sofremos bem menos que todos esses países que concentraram todo o seu comércio em um ou outro bloco econômico. Tudo isso criou um laço entre o Brasil e outros países e hoje estamos em pé de iigualdade nas relações internacionais. Ao mesmo tempo eu acredito qu e as nações desenvolvidas começaram a entender que a situação mundial era tão séria que elas não seriam capazes de resolver todos os problemas sozinhas. O Brasil foi convidado pela primeira vez para o G8 (o grupo dos países ricos) em 2003. Agora estas são relações instituídas. Estamos pedindo uma reforma do Conselho de Segurança da ONU. Isto nós ainda não conseguimos, mas vamos conseguir.

Newsweek: O sucesso do Brasil em pilotar a crise econômica mudou o enfoque dos investidores?

Lula: Eu vou lhe dar um exemplo. No início da crise, as matrizes da indústria automobilística mandaram todo mundo reduzir a produção, reduzir os estoques e remeter recursos. Mais tarde eles chamaram os brasileiros para que explicassem que milagre eles haviam realizado, ao recuperar tão depressa os seus mercados.

Não houve milagre. Tínhamos um mercado interno forte. Tínhamos consumidores que queriam comprar carros. Reduzi mos parte dos impostos sobre as vendas e pedimos Pas empresas que oferecessem crédito em condições favoráveis. O resultado é que estamos batendo recorde atrás de recorde em vendas de carros no Brasil.

O mesmo acontece com geladeiras, fogões, máquinas de lavar, e com computadores e a construção de moradia. Se todos os países tivessem feito isso tão rápido como o Brasil e a China fizeram, certamente o mundo poderia emergir da crise mais depressa. Já estamos começando a ver sinais de recuperação. Se eu lhe disser que este ano vamos gerar um milhão de empregos você provavelmente não vai acreditar. Mas espere só os números em dezembro sobre quantos empregos vamos criar no setor formal.

Newsweek: Quais são as lições para outros países?

Lula: A grande lição para todos é que o Estado tem um importante papel a jogar, e tem grande responsabilidade. Não queremos o Estado para gerir negócios. Mas ele pode ser um indutor do crescimento e pode trabalhar em harmonia com a sociedade. No Brasil, graças a Deus, temos um sistema financeiro sólido e bancos públicos com um importante papel na oferta de crédito. Estes foram os bancos que garantiram que a crise não fosse tão ruim quanto foi em outros países.

Newsweek: Não foi também porque o mercado brasileiro era forte?

Lula: Foi um mérito do trabalho duro, por parte do setor privado e do governo. Eu não aceito a ideia de que quando as coisas vão bem o mérito vai para o setor privado e quando as coisas vão mal a culpa é do governo. Ninguém neste país teve um papel mais ativo que eu tive em vender produtos prasileiros. Ninguém impulsionou as empresas brasileiras mais do que eu impulsionei. É assim que construimos uma grande nação.

Newsweek: O senhor frequentemente critica o processo de privatização. Porém graças à venda das empresas estatais até os brasileiros mais pobres têm celulares, e as ex-estatais como a Vale se tornaram vencedoras sob propriedade privada.

Lula: Mas o Estado poderia ter feito a mesma coisa.

Newsweek: Só que não fez.

Lula: Não fez porque a elite brasileira usava as empresas públicas para seus próprios fins. Quando você faz assim, qualquer companhia quebra, em qualquer lugar do mundo. Eu penso que as privatizações foram um erro. Antes de eu tomar posse, a Petrobras estava investindo R$ 250 milhões (US$ 139 milhões) em prospecção. Hoje estamos investindo cerca de US$ 560 bilhões. A descoberta de petróleo na camada do pré-sal , nas águas profundas do oceano, não foi um golpe de sorte. Foi o resultado de investimento. Só foi preciso investir corretamente.

Mas eu não sou de ficar remoendo o passado. Você nunca vai me ou vir falar em reestatizar uma empresa. O que está feito está feito e vamos seguir adiante.

Newsweek: O Brasil consegue manter seu compromisso com uma energia limpa, com todos os pesados investimentos necessários para extrair o petróleo do pré-sal?

Lula: Iremos usar o dinheiro do petróleo para ajudar a explorar energia limpa. As duas (a petrolífera e a renovável) não são incompatíveis.

O Brasil é um dos poucos países com um enorme potencial de energia limpa, renovável. A Petrobras no ano passado criou uma empresa de biodiesel. Estamos trabalhando no desenvolvimento de plataformas hidreléticas que irão simplesmente usar o fluxo do rio para gerar energia. Os trabalhadores irão de helicóptero para a estação geradora, como vão para uma plataforma petrolífera no mar. As plataformas serão rodeadas pela floresta, para reduzir o impacto ambiental. O Brasil tem a responsabilidade de mostrar ao mundo que é cad a vez mais viável usar uma energia que não polui o mundo. Nossa matriz energética vai se tornar firmemente mais limpa.

Newsweek: O Brasil concorda com reduções na emissão de gases do efeito estufa na próxima rodada da mudança climática, em Copenhague?

Lula: Queremos construir com outros países uma proposta que seja compatível com a capacidade de cada um, encontrar compromissos apropriados a cada país. O Brasil apoiará a criação de um fundo para estimular o sequestro de carbono pelas nações mais pobres, mas o Brasil também vai querer que o mundo rico reduza suas emissões de gases do feito estufa. Precisamos medir as emissões históricas de cada nação, para que cada um de nós pague de acordo com sua própria responsabilidade.

New sweek: Mas o Brasil vai se comprometer com metas de redução?

Lula: O Brasil vai se comprometer a alcançar um amplo acordo, e se esse acordo contiver metas de emissão o Brasil deseja cumprir. Mas quer ver se as outras nações vão também encontrar as suas metas de redução.

Newsweek: Por que o senhor deseja aumentar o controle estatal na indústria petrolífera, quando o atual sistema de concessões ao setor privado está funcionando?

Lula: Este novo modelo de partilha de produção que estamos propondo ao Congresso é o sistema dominante no mundo de hoje. A única razão para manter o sistema de concessões, que é um tipo de contrato de risco, é quando um país não tem certeza de que vai se achar petróleo e quer partilhar o risco (da prospecção). Mas quando sabemos que o petróleo está ali, e esse óleo é um recurso estatal, por que iríamos entregar concessões (às empresas estrangeiras)? Mas pode apostar que as maiores empresas petrolíferas do mundo vão se interessar em investir nos projetos do pré-sal no Brasil, sob estas novas normas.

Newsweek: O bloco comercial do Mercosul, que o Brasil lidera, só admite como membros democracias plenas, que respeitem os desejos humanos. A Venezuela está qualificada?

Lula: Dê-me um exemplo em que a Venezuela seja antidemocrática.

Newsweek: Trinta e quatro estações de rádio fechadas pelo governo em um fim de semana. Repressão a sindicatos independentes e perseguição do governo a rivais políticos. Gangs ligadas ao governo de Hugo Chávez vandalizando a única rede de TV independente.

Lula: Esta não é a versão do governo.

Newsweek: Existe alguma dúvida?

Lula:Vamos ser francos sobre uma questão. Primeiro, cada paí s estabelece o regime democrático que convém a seu povo. Isto é uma decisão soberana de qualquer nação. Eu nunca questionei o fato de que, num sistema parlamentarista, o primeiro ministro pode ficar no poder por 15 ou 18 anos. Agora [Álvaro] Uribe está apoiando [uma emenda constitucional para permitir] um terceiro mandato. Eu não ouvi ninguém criticar a Colômbia por isso.

Por que eu não quero um terceiro mandato? Porque o que vale para mim vale para meus opositores. Se agora eu quero três mandatos, amanhã eles vão querer quatro. Por isso eu digo que você não pode brincar com a democracia. Dois mandatos e oito anos é um tempo razoável para se governar um país.

E vamos ser honestos: a elite venezuelana não era exatamente um jardim de flores. Lembre que Chávez foi vítima de um golpe. Você não pode esperar que ele esqueça disso tão cedo. Eles sequestraram o homem exatamente como sequestraram [o presidente hondurenho, Manuel] Zel aya. Não podemos deixar que isso continue a acontecer na América Latina. Chávez terá de se submeter às regras do Mercosul. O Mercosul tem normas definidas.

Newsweek: Sim, mas as normas do Mercosul dizem que para um país ingressar no mercado comum precisa respeitar as regras da democracia e dos direitos humanos.

Lula: Chávez foi testado em quatro eleições nos dez últimos anos, e o povo venezuelano está aprendendo. Nós somos um continente colonizado. A maioria dos países da região passaram o século 20 na pobreza. O petróleo da Venezuela enriqueceu meia dúzia de pessoas enquanto o resto do povo continuava pobre. Esta é a primeira vez que este [dinheiro do] petróleo está sendo usado para aumentar a participação do povo. Se está certo ou errado, o povo venezuelano vai julgar.

Newsweek: A democracia é só eleições?

Lula: Eleições são um grande indicativo de democracia . A democracia na prática significa instituições que funcionam devidamente, e estou trabalhando para defender a democracia brasileira. Cada país tem de construir a democracia que quer. Eu não tenho dúvida de que os latino-americanos estão em um dos mais ricos momentos da gestão democrática em nossa história.

Newsweek: Com o Brasil assumindo um maior papel internacional, muita gente se pergunta por que o país permanece tão silencioso em relação a países cujos regimes não são democráticos...

Lula: Se oilharmos para os direitos humanos literalmente, então todas as nações cometem erros, inclusive os Estados Unidos. Onde estão os direitos humanos em Guantânamo? Todos os países têm problemas. Só a paz e a democracia serão capazes de garantir o crescimento econômico necessário a uma vida melhor para a maioria.

De vez em quando as pessoas me perguntam: Lula, você é o líder da América Latina? Eu digo que não. Ninguém me escolheu para ser líder. Mas estou absolutamente convencido de que as relações do Brasil com a América Latina nunca foram tão claras, transparentes e honestas como hoje. Quando o Paraguai fica nervoso com o Brasil, eu tenho que compreender o Paraguai. Não posso ser agressivo se o Paraguai grita comigo. O Brasil tem muito mais poder e recursos. É como a relação entre pai e filho. Um pai não bate no seu filho toda vez que o menino grita. Ele tenta argumentar. É assim que os países grandes devem agir.

Fonte: Newsweek

do site do PC do B:
Vermelho

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Reparto...

Oscar David Montesinos, um menino de 10 anos, tornou-se um símbolo da resistência ao golpe que derrubou, há dois meses, o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya. Domingo passado, num show que reuniu milhares de pessoas em Tegucigalpa, capital do país, Oscar fez um discurso que é de deixar qualquer um de queixo caído, não apenas pelo conteúdo como pela capacidade oratória e carisma. Vê-se que não é um texto decorado e impressiona a articulação de sua fala.Ele bate duro no presidente golpista Roberto Micheletti: Micheletti que te vas, que te vas!
Video e descrição retirados do blog do Brizola Neto.http://tijolaco.com/

sábado, 12 de setembro de 2009

O "Big Stick"

A doutrina de domínio imperialista estadunidense continua atual e atuante. Mais de 180 anos após o enunciado do Presidente Monroe, os USA continuam tratando o "resto" do continente como quintal; contando com a colaboração de alguns governos e com o silêncio de outros; continuam crescendo o olho a "metendo a mão na cara dura".

A "América para os americanos", continua sendo a retórica para justificar a influência e dominação política, econômica e militar. E pensando bem, mesmo em tempos pós-bushianos, isso não mudou nada. Não só na América, no mundo todo: Afeganistão ocupado, Iraque, bases na Colômbia, Guantánamo... e por aí vai...

No portal ADITAL, encontramos uma bela entrevista sobre a questão. Das justificativas e subeter fúguios que io Sam ainda usa para "tacar" o grande porrete na gente. O portal conversou com o coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, Sued Castro Lima, que, entre outras coisas, desnuda a falácia do combate ao narcotráfico internacional como justificativa para o militarismo yankee : "a maior parte das drogas consumidas nos EUA é produzida no próprio país" e o intento real é o desmantelamento de movimentos populares ou organizações sociais e olíticas não alinhadas.

Adital - O senhor desconfia da justificativa dos EUA, que explicam a implantação das bases militares como mecanismo de combate ao narcotráfico na região. De que modo essas bases podem ameaçar a soberania dos países latino-americanos?

Sued Castro Lima - O argumento de fachada de combate ao narcotráfico há muito se perdeu. Desde que foi iniciado, no ano de 2000, o Plano Colômbia tem redundado em enorme fracasso. A produção de cocaína vem aumentando, exatamente porque aumentou o mercado, concentrado em sua maior parte no EUA. Segundo o Washington Office for Latin America, órgão do governo dos EUA, o preço da cocaína no país caiu 36% nos últimos anos. A queda do preço é mais resultado do incremento da oferta do que de uma redução da demanda. Os EUA continuam sendo os maiores consumidores de cocaína do mundo, com 2,5% da população viciada na droga, algo em torno de 7 milhões de pessoas.

Da produção sul-americana que segue para os EUA, apenas 10% do lucro fica nos países produtores, enquanto 90% vão para as mãos das máfias que operam dentro dos EUA. São dados que indicam que o território onde deveria se travar o principal combate contra o narcotráfico é o próprio território norte-americano e não a selva amazônica.

Ainda sobre o tema droga, a Folha de São Paulo publicou (23/08/2009) uma informação surpreendente: durante a era Taleban (1996-2001), a produção de ópio foi totalmente desmontada no Afeganistão. O líder do grupo, mulá Mohammad Omar, considerava a droga "anti-islâmica", e ameaçava executar quem cultivasse a papoula. Atualmente, com a presença de tropas estrangeiras no país, a região é responsável pela produção de 70% do ópio no mundo.

Afinal, o que sobra evidente é que o combate ao narcotráfico na América Latina é apenas o que se chama em contra-informação de história-cobertura. Em 1986, Reagan incorporou à Doutrina de Segurança Nacional a National Security Decision Directive (NSDD), segundo a qual camponeses cultivadores de coca, militantes de esquerda, guerrilheiros marxistas, governos populares nacionais e grandes traficantes fariam parte de um estranho complô destinado a destruir a integridade e o poderio político dos EUA. O tráfico funciona, assim, como pretexto para justificar ações militares destinadas a promover o esmagamento dos movimentos populares ou revolucionários que surgem na América Latina e intimidar ou neutralizar iniciativas regionais autônomas nos campos econômicos e de defesa, como é o caso da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL).

Leia na íntegra licando AQUI!