quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Palavras de Barack
Aqui como lá, a figura do operário e do "negão" remetem pra mudanças nas posturas dos governos. Causam desconforto "nos de sempre"; nos brancos e refinados, de fina linhagem e bela estampa.
As figuras sozinhas de Lula e Barack não garantem os novos rumos. A experiência brasileira nos mostrou que GOVERNO e PODER não são necessariamente sinônimos e que diversos elementos delimitam e condicionam os avanços políticos de um governo.
Mas algo mudou! E não por acaso, Barack assume usando palavras bem conhecidas nossas. Assim como o Brasil de 2002, que elegeu Lula, mostrou a vitória da esperança sobre o medo, também os estadunidenses escolheram a esperança sobre o medo (...we have chosen hope over fear) nas palavras do próprio Obama no discurso de posse.
Mas vamos lá!
Obama manteve o clima de cordialidade, empatia e reciprocidade com o povo estadunidense. Por vários momentos fez menção a "con-cidadania", lançando mão de uma proximidade bastante grande do governante com os governados.
Mesma relação não foi construída por exemplo, ao referir-se aos EUA, ou a América, como gostam de dizer entre o Rio Grande e os Grandes Lagos.
Obama fez referência muito enfática a um passado ancestral, com apelos atávicos aos ideias e valores fundantes da nação ianque. Partiu do exemplo de sacrifícios e esforços dos destemidos colonos que desbravaram e desenvolveram a maior potência entre as Nações do Mundo.
Desta idéia Obama solidificou o compromisso dos EUA com o resto do Mundo. Numa clara alusão ao Destino Manifesto, deixou claro que o papel dos EUA no mundo deverá ser preservado, como país hegemônico; manda-chuva político-comercial-militar. Enfim, deixou claro que não abrirá mão da posição no cenário mundial (e ninguém esperava diferente, né?).
Ainda assim, foi capaz de assumir que o mundo mudou e, portanto, precisavam mudar também os EUA. Num gesto pragmático tentou acolher e aproximar adversários, jogando com um paradigma político de conciliação e superação de "conflitos mesquinhos e falsas promessas, às recriminações e dogmas desgastados que por muito tempo estrangularam nossa política". Logicamente faz referência aos democaratas e republicanos e não às outras forças políticas quase invisíveis ou em construção nos EUA (saiba mais aqui, aqui e aqui.
No rol de mudanças necessárias, Barack deixa claro que não será um neoliberal, pelo menos não um ortodoxo(!), e como receituário da crise apresenta o que podemos chamar de "New Deal" revisitado; coloca a questão de que o governo não deve se rpequeno ou grande demais, mas eficiente; aponta para políticas de pleno emprego, com obras públicas e uma rede de seguridade social "a la keynes
Na onda do multiculturalismo citado por Obama na raíz da fundação e na história dos EUA, Barack aponta para um relaxamento das animosidade no plano bélico, apresentou um plano de desocupação doIraque e voltou a fazer menção a isso na posse. Logo após inciar ao trabalho suspende (dá uma segurada!) em processos de prisioneiros em Guantánamo que também já foi sinalizada com fechamento em até um ano.
Um novo nível de relação internacional também passa pelas propostas de estudar formas de erradicar (erradicar é um exagero meu! ele disse "diminuir") aameaça nuclear, controlar o aquecimento global e buscar outras fontes de energia (Nós iremos utilizar a energia do sol e dos ventos e do solo para impulsionar nossos carros e fábricas // We will harness the sun and the winds and the soil to fuel our cars and run our factories).
Mesmo com várias sinalizações de uma possibilidade diferente, repito, a figura de Obama e seu(s) discurso(s) nãosão suficientes para mudar o quadro.
Alguns perguntam o que virá depois dessa festa e dessa esperança toda? Hoje temos apenas símbolos e expectativas, mas ainda quero ver essa história, porém, temo que depois acabe valendo a parte que achei mais preocupante do discurso, quando Obama disse: "Nós não iremos nos desculpar por nosso estilo de vida, nem iremos vacilar em sua defesa // We will not apologise for our way of life, nor will we waver in its defense".
E a gente já sabe o que significa o "estilo americano" e que custo ele pode ter para o mundo!
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2 comentários:
Caro colega Alcir, como que nunca me enviastes o link do teu blog. Realmente fantástico (e bem mais povoado de posts que o meu).
Fora as nossas desavenças ideológicas, o resto está de parabéns.
Em tempo: Obama em nenhum momento da campanha, e agora eleito e empossado, usou a cor da pele como propaganda pra se promover. Isso é um mérito para o caráter de alguém que merece hoje ocupar o cargo mais importante do mundo moderno.
Olá, meu guru! Fiquei muito preocupado com a mediocridade do enfoque dado pela mídia brasileira à posse de Barak Obama. Com tantas expectativas sobre o Oriente Médio, Guantánamo, a economia mundial, o próprio tratamento do Governo Americano com as comunidades africanas, a imprensa preocupada com quem seria o estilista da Sra. Obama. Ora, é muita futilidade para uma mídia que se diz avançada.
E, por falar nisso, será que teremos de eleger um gaúcho Presidente Americano, para conseguir tirar a nossa cultura fora das fronteiras do Rio Grande? Porque, como tem se faladoe, mostrado o Quênia. Mais que a Africa, só a Índia, no momento.
Abraços.
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